25 de setembro de 2003

O CONSELHO EDITORIAL


Há dois tipos de conselheiros. Os que usam o cargo para prestígio pessoal e pouco contribuem para a redação, limitando-se a defender seus interesses e a destacar os amigos, e o verdadeiro conselheiro, aquela pessoa que não está confinada no jornalismo e pode salvar as reportagens da mesmice com seu conhecimento de assuntos e fontes.

CLOSE-UP E PLANO GERAL – Um telespectador ou alguém em frente ao computador costuma estar bem mais informado do que um repórter atazanado sobre matérias intermináveis. O zap ou o mouse são instrumentos do tempo disponível de um consumidor, muito maior do que o expediente de quem produz. Não basta cultivar as fontes, ter experiência no assunto tratado, traquejo na redação diária. É preciso que alguém contribua para a matéria sem que se envolva nela. Para isso, esse alguém, o conselheiro, possui a chave de muitos enigmas, as pessoas certas na vanguarda dos fatos, abrindo as portas para o insumo mais importante, que é o ineditismo da abordagem, o aprofundamento de detalhes fundamentais, o esclarecimento de pontos obscuros. Um conselheiro é o que o nome diz e não um editor ranzinza a cobrar posturas e prazos. É a pessoa indicada inclusive para ser acordada alto da noite, quando tudo parece perdido. Pode ajudar na análise do que está sendo tratado, fazer um balanço do que o repórter conseguiu, apontar caminhos para o editor convocar mais gente e ampliar o trabalho. O conselheiro é, a meu ver, a principal fonte, pois sabe aproximar-se de um fato o suficiente para aprofundá-lo, ou então vê-lo em perspectiva, para que repórter e leitor relativizem as conclusões e assim se aproximem mais do que podemos entender como verdade.

PÓLVORA - A informação urgente, apressada, que chega na frente, não é o insumo mais importante do jornalista, já que informação hoje sobra e nem sempre ela flui do trabalho da comunicação, mas das próprias fontes, que colocam no ar o que sabem, sem precisar de intermediários. Acabou a profissão de jornalista como entendíamos em séculos passados – e que alguns apresentadores insistem em manter, anunciando que o repórter vai “trazer a informação para você”, como se estivesse fazendo um grande favor ou revelando a inédita existência da pólvora. O insumo principal é o que jornalista pode entender sobre o que está veiculando, é a percepção dele que vale, o que cria (em termos de linguagem eficiente, e não de ficção) para esclarecer os fatos. A fidelidade canina aos fatos é no fundo a fidelidade canina à ética e à coragem pessoal e profissional. São os valores que contam no mar de acontecimentos que nos rodeiam. O paradoxo é ser isento sem deixar de ser engajado. Essa é uma pedreira que pode parecer utópica para quem lida diariamente com os fatos pressionados pela ambição e a brutalidade. Mas esta coluna, como falei ontem, é um exercício de imaginação.

VALE PARA TODOS – Um conselho editorial não pode ser implantado por motivos políticos – para submeter as matérias ao crivo desse fórum – mas práticos. A cravada é, portanto, saber escolher os conselheiros. O cargo dignifica quem é convidado e o escolhido repassa o carisma do seu nome e a força do seu conhecimento ao veículo de comunicação que o convidou. Pode-se argumentar que o Conselho serve para uma revista importante ou um grande jornal, mas não para os pequenos. Aí reside o erro. A diferença entre um veículo importante e um pequeno é, primeiro, a credibilidade, e segundo, o detalhe que diferencia. Na concorrência de hoje, você ganha a parada por um nariz, um pescoço, um tufo de cabelo. Um Conselho Editorial servirá para amparar o pequeno jornal ou revista a virar-se com muito mais desenvoltura, a acertar mais, a destacar-se e a crescer. Mas não deixe esse poder na mão de pessoas incompetentes. Afaste os nocivos, escolha a nata, os nomes acima de todos, os melhores. Não tenha medo: convide o bam-bam-bam. Ele, surpreendentemente, vai gostar. Não aposte por baixo. Nivele por cima. Seja jornalista, seja herói.

RETORNO – Às vezes o espaço para comentários não carrega e não me perguntem por quê, mistérios dos servidores. Mas tenho recebido e-mails. Um da Larissa Grutes, estudante de jornalismo que conheço desde quando ela tinha 17 anos e que me escreveu antes de entrar na faculdade - está hoje na UFRJ. Larissa, que periodicamente me informa sobre seus estudos e trabalhos, é uma das pessoas responsáveis pelo Diário da Fonte, pois para ela comecei a desenvolver por escrito com mais freqüência o que eu só costumava dizer. Do portoalegrense Jorge Freitas, que agora vive no Rio, muitas revelações: “Fiz mestrado em Comunicação com Nilson Lage, na Eco/UFRJ, escrevendo sobre a entrevista; depois dei aulas na graduação, no início dos anos 90 e fui por muitos anos da Gazeta Mercantil, no Rio, onde trabalhei com grandes homens e jornalistas – como Riomar Trindade, Paulo Totti e José Antônio Severo. Quando cheguei no Rio, nos anos 80, trabalhei na falecida Última Hora, com Jeferson Barros, ilustríssima figura.”

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