14 de novembro de 2003

O PROGRAMA POLÍTICO


Ontem, em horário nobre em todos os canais, o PDT fingiu estar numa entrevista coletiva (muitos entrevistados e um só entrevistador) , para tornar mais "dinâmica" a mensagem sobre a traição do governo Lula. Um desastre, como todo programa político de qualquer partido. Nos pequenos anúncios do PMDB, uma apresentadora andava apressada para sugerir, também, um dinamismo inexistente. O resultado é a mesmice num espaço que deveria ter soluções próprias, criadas, de preferência, por jornalistas.

SERIEDADE - A obrigatoriedade do programa político torna-o odioso para a população. Não deveria ser apresentado em cadeia compulsória em todos os canais, nem deveria ter tanto tempo de exposição, nem mesmo dividido em mensagens de 30 segundos ou um minuto. Cada partido deveria ter ombudsman, que seria o âncora do programa político. A população desancaria o partido e o ombudsman estaria lá para coordenar o debate. Os políticos só apareceriam para responder às demandas. Deveria ser algo sério, de verdade, e não mais uma armação. Mas quem tem coragem para isso? O programa político está fundado na publicidade, quando deveria ser eminentemente jornalístico. No lugar do discurso, a narrativa da reportagem, no lugar do oba-oba, a informação. No lugar da cançoneta pífia com crianças correndo em câmara lenta e a abordagem cínica dos apresentadores ao pobre do telespectador, que é tratado como um imbecil, um pouco de profundidade. Deveria ter jornalistas convidados, que fariam qualquer pergunta para os candidatos ou líderes de partido. Ganharia confiança, o que significaria aumento de votos. Deveria ser o que jamais será, pois o que existe é o oportunismo, retrato de uma política onde pouco se faz, enquanto o povo sonha com soluções e mudanças. O programa político deveria levar ao ar o que é censurado na mídia, e esclarecer sobre História do Brasil sem tentar puxar a brasa para a sardinha do partido. Para isso, seria preciso chamar historiadores e não marqueteiros. É tão simples. Basta lembrar que somos mortais, que esta vida é a oportunidade única de fazer algo para o País e que no futuro, qualquer semente plantada vingará com força, na terra que nos viu nascer e que precisa do que nós temos de melhor.

MANIPULAÇÃO – Ontem, nos comentários a esta coluna, Hélcio Toth tocou num aspecto interessante da política universitária: a manipulação das reuniões e das eleições. O ambiente universitário sempre foi dominado por pequenos partidos clandestinos, a maioria desconhecidos. Os lideres estudantis, na época em que estudei jornalismo, faziam parte de grupelhos, que estavam abraçados a partidos maiores. Isso desaguava em detalhes fundamentais dos discursos e plataformas. Mas o que se destacava era o ato de iludir a massa estudantil, sem jamais confiar nela. O que temos hoje no poder federal são os representantes daquela política viciada. Eles reproduziam, já nos anos 60, os vícios da grande política, e hoje cumprem seu papel no poder, para desespero de todos nós, que nada vemos mudar. Lembro que me mandaram embora de uma reunião de cúpula porque fui bastante debochado com um líder clandestino, vindo aqui de São Paulo, que dizia coisas para nós em Porto Alegre, reproduzindo um discurso batido, que já mostrava sua inoperância naquela época. “Vocês dizem sempre as mesmas coisas”, falei, para logo depois ser convidado a me retirar. Tive certo prestígio passageiro por ter me destacado no vestibular e , sabendo disso, meus colegas me elegeram representante da classe. Com isso entrei no movimento estudantil e virei secretário de imprensa do CAFDR, Centro Acadêmico Franklin Delano Roosevelt. As reuniões eram extremamente intrincadas, todo mundo fera em política, tinham lido absolutamente tudo e pontificavam com grande propriedade, como se estivessem mudando o mundo através dos livros. Ficava impressionado com aquela capacidade de articulação, mas logo vi que tudo se perdia com a falta de confiança no que os estudantes realmente pensavam e queriam. Havia o equívoco de que era preciso uma vanguarda esclarecida para conduzir os acontecimentos. O resultado foi o esvaziamento, provocado não só pela brutal repressão política, mas principalmente pela falta de discernimento da liderança.

RETORNO – A Feira do Livro de Uruguaiana será do dia 21 ao dia 30 deste mês. O secretário de Cultura, Esporte e Turismo do Município, Bebeto Alves, já conseguiu do governador gaúcho a licença para instalar um teatro na cidade e está tratando de atrair investidores para uma atividade turística magnífica: o passeio de barco pelo rio Uruguai. Esse é o verdadeiro dinamismo na política, que dá resultados imediatos e faz justiça à tradição cultural brasileira.

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