5 de abril de 2004

O LINCHAMENTO DE JESUS


Quem matou Jesus? Não há dúvida que foi Mel Gibson, que representa o mais alto grau da demência americana livre de qualquer amarra na era Bush. Seu cínico depoimento na TV esclarece suas verdadeiras intenções: ele põe a culpa do assassinato não nos judeus ricos de Nova York - e por isso confessa que não é anti-semita -, mas nos povos oprimidos, que, na sua visão distorcida, são culpados pela situação em que se encontram e por isso justificam toda intervenção da brutalidade do poder imperial.

OS IMPERDOÁVEIS - A cultura americana jamais aceitou o perdão, base do cristianismo. Ao contrário, encara o perdão como covardia. Depois de derrotar militarmente os espanhóis em Cuba – o último bastião do poder hispânico no mundo – no final do século 19, os americanos se especializaram em identificar os derrotados, que viviam sob o poder de reis católicos, com galinhas, ou seja, covardões. Basta ver qualquer filme feito em Hollywood: se aparece um lugarejo do México, Bolívia etc., lá estão as galinhas em polvorosa. A Igreja Católica é alvo da mais completa execração pública nos filmes imperiais. Os padres são culpados de tudo e os rituais católicos são colocados como excentricidades de culturas atrasadas. O deboche é total e a América adora colocar freiras falsas – como Mudança de Hábito, com Woopi Goldemberg – ou apaixonadas, como aconteceu nos papéis encarnados por Ingrid Bergman, Audrey Hepburn etc. Ou seja, sempre há necessidade de desmoralizar o catolicismo. Qual a única maneira de adotar o catolicismo nessa cultura de violência e horror? Por meio do fundamentalismo católico, do qual Mel Gibson é ponta de lança. Filho de um fanático que nega o Holocausto, Mel Gibson tem uma igreja particular na sua casa em que adota os rituais eliminados pelo Concilio Vaticano II nos anos 60, no papado de João 23. Como todo fundamentalista, sua religião é a violência. Esta, serve como apelo de bilheteria e recado direto aos que não adotam a América como paradigma. Essa violência é idêntica em todos os filmes que Mel Gibson fez aos potes numa carreira execrável, desde as máquinas mortíferas às patriotadas de O Patriota, o mais cínico e horrendo filme pseudo-histórico de todos os tempos.

SADISMO - No seu filme, Jesus é tratado sadicamente, arrastado e flagelado nos moldes de Hollywood e não da Bíblia. Um filme sem contexto – “esse não é meu trabalho“, disse ele na entrevista – onde o que parece gratuito é totalmente justificado por sua falta de escrúpulos. O mais torpe é sua manipulação da opinião do Papa, que foi veiculada fatalmente pelos asseclas fundamentalistas, os que não arredam pé de Roma. Um deles disse depois que João 23 morreu: “Levaremos 40 anos para desfazer o que este Papa fez em quatro.” Parece que estão conseguindo. Os atuais carismáticos, que são inimigos da concentração e entopem as igrejas com suas cantorias e gestos exagerados, é o sinal dessa desconstrução católica, que atinge a fé de milhões e redireciona tudo para a superficialidade e o fanatismo. O Evangelho segundo São Mateus, de Pier Paolo Pasolini, continua sendo o melhor, mais profundo e mais belo filme sobre Jesus. Perto dele, a paixão de Mel Gibson é uma porcaria execrável, que está fazendo dinheiro em cima da apelação e da falta de respeito.

IMPÉRIO - Mas o que importa realmente é sua identificação total com a ditadura Bush, o falso presidente que tomou o poder pela fraude e enterrou o mundo em nova guerra. Os pobres não sabem se governar, tanto é que matam Jesus, diz o filme explicitamente. É por isso que merecem um poder imperial como Roma, que lava as mãos diante da covardia dos galinhões do Terceiro Mundo. Eis um trabalho comercial que merece ser analisado em profundidade, pois a fome pela palavra de Jesus abre espaço para os aproveitadores e arrivistas.

RETORNO - O site Consciencia, criado e mantido por Miguel Duclós, está batendo recorde de 2.600 visitas/dia. Além disso, está com novos textos. Anuncia Miguel: "O diálogo Íon, de Platão, que fala sobre a poesia, a Ilíada, os rapsodos e a "inspiração" poética. A tradução é inédita e foi desenvolvida diretamente do grego por Humberto Zanardo Petrelli durante seu mestrado na FFLCH-USP. Humberto já publicou no site a sua tradução de Elogio de Helena, de Górgias, em edição bílingue. Na página do Íon encontra-se disponível para download o texto em grego no formato Adobe Pagemaker e o PDF da tradução. Na edição on-line, seguiu-se o mesmo critério da edição em PDF, cada linha corresponde às linhas do original, e a numeração de Stephanus é anotada paralelamente na margem direita. Nos outros diálogos de Platão que publiquei, coloquei a notação de Stephanus entre chaves. A edição no original em grego de Humberto segue o mesmo padrão da publicação de Oxford. Eis os links
http://www.consciencia.org/antiga/plaion.shtml - Edição Web
http://www.consciencia.org/antiga/ion.pdf - Tradução em PDF
http://www.consciencia.org/antiga/ionoxford.p65 - Texto em Grego"

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