7 de julho de 2004

CULTURA É INDEPENDÊNCIA


A sucessão de intervenções faladas a que se de dedica o presidente Lula gera, comprovadamente, um impacto mundial. Basta ver como nos tratam a China e agora a Argentina depois de ouvirem atentamente o estadista dos grandes estádios. Desta vez, ele teve um ágape intelectual com os colunáveis da Globo, que foram levar a preocupação da família Marinho de perder o trono por incompetência e ser substituída por algum escroque estrangeiro. Tudo em nome, claro, da soberania nacional, que, surpresa!, voltou à moda. No noticiário mais do que noturno, Arnaldo Jabor colocou sua colher dourada para dizer, entre outras coisas, que cultura é coisa concreta, geradora de empregos. Isso é indústria cultural, ou de entretenimento. Cultura é outra coisa. Cultura é você achar que as Casas Bahia estão exagerando com tanta propaganda.

TANQUINHO - Deve haver alguma coisa errada. O abombadinho das Casas Bahia não sai da tela. Gasta-se o tempo precioso do povo com anúncios sobre os eletrodomésticos e móveis. É bom descobrir que 26% da chamada linha branca vai para a Argentina, ou melhor, não vai mais, pois lá, ao contrário daqui, existe um país. Na hora em que eles começaram a comprar mais do que vender para nós, depois de uma década levando vantagem, imediatamente mudaram o jogo. É assim que acontece com qualquer país que tem povo dentro. Como não temos povo, mas, como comprova a coluna do Elio Gaspari no último domingo, apenas choldra a patuléia, fazemos qualquer negócio com qualquer um, desde que Maria leve o seu de alguma forma. Por que não vendemos essas geladeiras e máquinas de lavar roupa para a população brasileira? Não, para o povo vendemos tanquinho, que dá quase o mesmo trabalho de um tanque de roupa suja e nem chega perto do nariz empinado das madames dos anúncios da Brastemp. Bastou os argentinos falarem grosso para o Mercosul despencar mais uma vez. E, como os chineses que deitaram na soja depois que Lula foi visitá-los cheio de pose, a Argentina meteu bronca bem na hora da reunião do Mercosul em Porto Iguazu. Brotaram imediatamente os gerentes das multinacionais dizendo que vão cortar milhares de empregos. Pois não é que no Jornal Nacional fez reportagem sobre como os brasileiros estão comprando mais linha branca? Coincidência! Agora que estão com o encalhe na mão, intensifica-se a campanha. Publicidade não resolve. O que precisa é distribuição de renda e fim dos monopólios. Sou a favor das micro-regiões auto-suficientes em tudo, especialmente na alimentação. Fim do passeio da cenoura movido a diesel e a rebite de caminhoneiro.

A INOCÊNCIA PERDIDA - Eu não sei por quê, pergunta o inocente Lula, as pessoas não se organizam em cooperativas de crédito. O recado é óbvio. A campanha política vai bater feio no lucro gigantesco dos bancos, fruto da fraqueza deste governo e de sua política anti-povo. Por isso Lula, que se acha muito esperto (riem os chineses) vem nos esfregar na cara que somos uns idiotas que ficamos pagando juros e taxas bancárias em vez de nos organizar. A verdade é que, quando existe realmente mobilização popular, desce-se o cacete. No ágape global no Planalto, um intelectual a tiracolo veio com aquela expressão, em qualquer país do mundo, para dizer que precisa regular a Internet, como acontece, claro, em todos os outros lugares, menos aqui. Era o que faltava. Vão regular o excesso de publicidade. O Diário da Fonte é um veículo de comunicação organizado, que tem título, olho, lead, seções definidas, colaboradores e correspondentes no Brasil e no Exterior. Não precisa ninguém regular nada. Falo aqui com total independência. Isso é cultura. Mas parece que para eles cultura nacional é o Tony (apelido americano) Ramos imitando coronel caipira. Aliás, atores globais adoram fazer papel de coronel. Eles acham que fazem denúncia, mas estão apenas reiterando os papéis sociais neste país divididos entre mendigos e biliardários. Pensam que retratam o Brasil, mas apenas reforçam a má distribuição de renda que eles representam, como privilegiados de uma potência de comunicação que cresceu à sombra da ditadura.

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