25 de julho de 2004

A ESTRELA DO BRASIL SOBERANO


A vitória na Copa América confirma a superioridade do nosso futebol, que ganhou ouro com a prata da casa. Rompeu-se a exaustão da mesmice das convocações e mais uma vez brilha a estrela do Brasil soberano: somos assim, por isso somos os melhores. As férias da chamada seleção principal deu chance para os craques emergentes, que assumiram a responsabilidade e derrotaram essa que é a pior seleção do mundo. Pois a seleção deles reflete o que os argentinos possuem de pior e não faz justiça à grandeza do próprio país. A decisão também serviu para dar uma cala-te boca nos urubus da conveniência, a equipe da Globo, que enterrou a equipe canarinho quando estávamos perdendo por dois a um, antes que Luis Fabiano disputasse a bola no taco e Adriano jogasse nossa vontade para o fundo da rede no último segundo.

JOGO DE CENA - Quando alguém se atira sem que o adversário lhe toque, como tantos fazem tantas vezes, para cavar a falta, é de linguagem que estamos tratando. O impostor tenta impor uma leitura a seu favor da jogada, para obter vantagem. Esse lance pode ser comparado a uma informação falsa numa reportagem, um erro de análise. A falsidade pode ser explícita e dá até cartão amarelo para quem tenta ludibriar a arbitragem fazendo-se de vítima. Mas muitas vezes o gesto é bem sucedido e dele pode sair até pênalty. Sinal de que existem várias interpretações para a mesma jogada e o futebol é um sistema de probabilidades. Qual a sua expectativa aos 47 minutos do Brasil x Argentina? A Argentina já era campeã, tanto é que tentou dar olé, o que mexeu com os brios da moçada de camisa amarela. O gol de empate foi sorte, fruto da garra, uma intervenção divina? Para mim foi justiça, pois apesar de termos o jogo inteiro passado a bola para os inimigos, nossos atletas se superaram. Um deles foi Gustavo Nery, muito ruim no primeiro tempo e impressionante no segundo. Adriano parecia adiar a própria facilidade de ganhar de todo mundo e se dirigir ao gol. Diego não explodiu, mas ajudou a colocar fogo na seleção, como sempre faz. E a chance que Felipe teve não foi aproveitada. Quando nos falta Alex e seus passes perfeitos, ficamos em apuros. Claro que esses diagnósticos sobre os destaques do jogo são pura especulação, pois não vi o jogo, apenas o assisti pela televisão.

BONS GAROTOS - Foi hilária a enrascada com que o monopolista Bueno e sua troupe se meteram quando Adriano decidiu. Esqucendo que o segundo tempo é sempre a revanche do professor Parreira, eles comentavam o quanto a Argentina era superior, como ganhou facilmente todos os jogos, ao contrário de nós, que penamos muito e ainda perdemos para o Paraguai. Já estavam dando tapinha nas costas desses bons garotos que, claro, jamais serão maiores do que os craques principais. Pois para mim esta é a seleção principal. Estou farto de Cafu, Roberto Carlos, Roque Junior, Belleti, Juninho Pernambucano e também de Kaká, Cocó e Kuku (como diz o amigo corintiano Luiz de Moraes). O sr. Cicarelli também enche por ser um consenso. A mim me parece que esses grandes e famosos jogadores encaram, na prática, a seleção como uma equipe de segunda categoria, já que vibram mesmo é com suas equipes européias. Já esta seleção campeã da Copa América tirou do fundo do baú, do garrão, como se diz em Uruguaiana, essa memorável campanha. Gostei demais de todos eles, apesar de implicar com alguns. Espero que o dialético Professor Parreira leve adiante essa formação e faça desta a base da seleção brasileira principal. Coloque as estrelonas no banco, professor. Elas precisam disso. E deixe solto essas novas feras, que sofreram com a mediocriadade do anti-jogo argentino.

MAYORALES - O que mais impressiona é como os argentinos têm certeza que são os maiorais, quando não passam de uns pernas-de-pau. Costumo dizer que o futebol argentino é uma correria que pensa ter a precisão de relógio cuco. Seus jogadores são grotescos, toscos e grosseiros. Representam o pior da Argentina, aqueles vizinhos invejosos que não suportam a presença de um campeão no outro lado da fronteira. Lembro da seleção deles em 2004, que não passou da primeira fase, depois de cantar de galo nas eliminatórias. A Argentina que sofre e luta, que impõe soberania nas ruas, essa não é representada na seleção. O país vizinho precisa montar um time que tenha a ousadia de ser diferente, de sintonizar-se com o que possuem de melhor. Enquanto enviarem pernas-de-pau machones em campo para tentar dar olé na seleção pentacampeã do mundo, estarão em maus lençóis. Respeito é bom e nós gostamos.

RETORNO - Zagallo, que berrou o tempo todo na beira do campo porque não aceitaria nunca a derrota, saiu-se bem com sua fé no destino manifesto da nação. Disse que tanto Brasil campeão quanto Argentina vice tinha treze (seu número da sorte) letras. A numerologia, em Zagallo, é uma forma de comprovar, qualquer que seja a combinação do jogo, a vitória do país (nome próprio da biografia dele) nos planos da divindade. Um dia o coração de Zagallo ficará depositado em algum campo de futebol e nem todos os minutos de silêncio serão suficientes para homenageá-lo. Apesar de ter sido o mais irritante dos treinadores, o patriota exagerado acabou, por teimosia e merecimento, tornando-se um dos heróis da Pátria. Saberemos então a verdadeira dimensão do orgulho de termos compartilhado tantos títulos.

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