23 de julho de 2004

RECREIO DE IDÉIAS

Iniciei vários posts e não concluí nenhum Sinal que as idéias estavam com pouco fôlego? Ou existem coisas que podem ser ditas com muito menos espaço? Cortar, cortar, editar, reescrever. O Diário da Fonte tem disso também, apesar da tentação da facilidade que oferece na hora de publicar. Sem a intermediação da gráfica, os textos se soltam como loucos que descobrem a chave do hospício.

IMPRESSÕES - Comunicação, hoje, pela sua diversidade e rapidez, é Internet, mas o poder da influência e da repercussão oficial continua com a mídia impressa. Jornais e revistas que passam pelas gráficas ainda contam a seu favor com o poder transferido pela tradição e pela existência física, já que são objetos de manuseio amigável. Na Internet, os blogs, fotoblogs, sites, portais e orkut não contam com essa realidade concreta e ainda estão pendurados no pincel da realidade virtual. Também não existem ainda formatações definidas no espaço virtual (apesar de inúmeros exemplos bem sucedidos) que possam garantir uma identidade, digamos, física, a esses produtos recém criados. O poder existente dentro da mídia impressa, além do que já dispõe, conta agora com o apoio da Internet, que costuma ser tratada como mídia de apoio. E se essa situação se revertesse? Imagino que haveria mais pressão para que, pelo menos os jornais diários, voltassem a ter a antiga ousadia.

TEATRO INFORMAL - Obedecemos a alguns scripts básicos, roteirizados por concentradores de poder. Um deles é cair na armadilha depois de morder a isca. Aconteceu com os celulares. Tungaram o dinheiro de milhões que se encantaram com o uso facilitado dos novos aparelhos. Não adianta colocar a Diarista com o telemóvel pendurado no pescoço se você paga uma nota preta para receber chamadas, imaginem teclar para alguém. Outro script é o desenraizamento. Os ônibus urbanos, com as linhas redesenhadas pela burocracia, vão de nenhum lugar (os terminais) para lugar nenhum (os outros terminais). A população em trânsito vive nas estações. Acabou-se o vínculo com o bairro, que tornou-se periférico à linha de ônibus, que era um dos elementos de costura comunitária. Por isso o teatro de cada um é equivalente a um monólogo, feito de gestos de uma peça individual que tem a própria mente como espectadora. Mas o pior é quando, nas viagens urbanas, juntam-se duas solidões. Numa dessas viagens, ouço o garoto ao lado falar. Ele tem o visual cool, a fala arrastada cool. Seu esforço de ser cool é desenvolvido diante da menina que a toda hora abre-se num sorriso moncórdio e vazio, para fazer presença diante do nada e assim refletir o nada que está ouvindo. O garoto faz uma voz fanha forçada, toda redonda e melosa. De vez em quando ele precisa reforçar o coolismo de tanta arenga e começa a falar aos arranques, dando rápidas sacudidas na cabeça e torcendo a boca para o lado num maneirismo muito comum hoje. A voz então perde a fanhura e vai se esgarçando,estridente, alteando o tom para depois voltar ao estado anterior, de conversa banhada em catatonia. Meu e cara são as muletas principais. O que será isso?

EXCLUSÃO - A juventude foi inventada nos anos 60. As pessoas jovens sentiam-se excluídas, então criaram um mundo à parte, que excluía os adultos. Esse mundo à parte foi descoberto pelo comércio e a política, que incentivaram a brincadeira para multiplicar os lucros. Acabou se consolidando e desaguando na atual situação, época do esporte radical, que eu defino como o desprezo pela paisagem. Rebentar caminhos precários com máquinas possantes ou se atirar no abismo amarrado pelas pernas é de uma estupidez sem fim. No lado oposto, ficam amontoadas as pobres criaturas da Terceira Idade, uma invenção que retira a sobriedade dos velhos, que se submetem, com medo da exclusão total. Eu tinha uma tia-avó, a Tita, que era velhíssima, mas nunca foi da Terceira Idade. Nem meus pais, que morreram com mais de 60 anos, jamais fizeram parte desse grupo. Agora diz-se que a Terceira Idade é a melhor. Não é não. A melhor idade é quando se tem 20 anos e o mundo explode na tua mão. Essa é a idade que pega. O resto é programa de índio, quando a vida realmente nos desafia.

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