12 de março de 2005

HORÁRIO NOBRE É HORÁRIO POLÍTICO



Nesta quinta-feira fomos brindados com a presença firme e solidária de Leonel Brizola na televisão, transformado em bandeira do PDT, que se apresentou por 15 minutos em cadeia nacional como partido coerente e em ascensão. Gostei do programa, especialmente do Carlos Luppi, que o apresentou. Mas era dispensável ficar fazendo propaganda da expansão das exportações, obra dos governos FHC e Lula. Elogiar o fato de exportarmos proteína para os países ricos é de uma contradição sem fim. O agronegócio bem sucedido só se justifica se for para alimentar o povo brasileiro. Senão é apenas especulação e lucro e beneficia a poucos. Logo depois o horário político continuou, com a voz do dono, o Jornal Nacional, expondo o cinismo de José Dirceu e o ministro Palocci, defendendo o aumento da carga tributária na maior cara de pau, diante de vários empresários importantes, que escutaram quietos (pelo menos é o que se viu no JN). Recebo a bela Revista da Indústria, de visual editado por Luiz de Moraes, que traz a chamada A gota d?água sobre a medida provisória 232 que intensifica o arrocho tributário. Não adianta nada. Eles fazem o que querem.

INSONDÁVEL - Brizola mostra-se fatalista diante do que ele chama de o insondável do processo social, ou seja, as eleições de nulidades para a presidência da República no lugar dele, o legítimo candidato ao cargo (legítimo porque iria resgatar o que foi interrompido pelo golpe de 64, o trabalhista reformista). Ele acha (sempre vejo Brizola no presente) que deveríamos passar por toda essa bandalheira porque assim o povo quis e isso não se explica. O que ele poderia fazer? Foi destruído no processo político de terra arrasada a que todos fomos submetidos, com uma sucessão de discursos que disseminaram certezas como o avanço do neoliberalismo, a necessidade de ter um ex-operário na chefia do governo, a irreversibilidade da submissão à pirataria financeira, e outros mimos, todos aplaudidos de pé pelos colunistas de economia e política, com honrosas exceções. A mídia adora o poder e adota a cara de advertência para ensinar ao povo como deve se comportar. Depois que o horror se manifesta em miséria e mais violência, eles mudam de conversa para continuar pontificando. Carreiras longevas se fizeram com esse tipo de expediente. Serve para o colunismo político e econômico o mesmo que o professor Nicolau Sevcenko disse dos apresentadores da TV: eu era criança, disse ele em aula, e as estrelas da TV eram Silvio Santos e Hebe Camargo. Hoje sou quase um ancião, e eles continuam lá, firmes. De minha parte, conheci alguns deles. São graníticos em suas lógicas mutantes (conforme gira a grana), soberbos em seu capital simbólico (trata-se de os reis da cocada preta do jornalismo pátrio) e imexíveis em suas posições de privilégio (enquanto o resto da redação, em eterno rodízio, pasta).

RETORNO - Está difícil postar. Insondáveis copmandos tomam conta do blog. O Diário da Fonte continua, apesar de tudo. Aos poucos tudo voltará ao normal. Quis escrever aqui sobre o fim do verão, mas algo não deixou. Paciência. Me escrevam.

VERÃO - A estação criança se despede com dias ainda muito quentes, pouca gente na praia. Às vezes roça aquele frio assustador

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