23 de abril de 2005

O ABISMO ENCONTRA UM ROSTO




Um recado importante do novo Papa (que apareceu vestido de nazista em fotopotocas da execrável imprensa inglesa) é sobre a infantilidade da fé, fonte de inúmeras seitas. O estudo teológico, o debate aprofundado e conseqüente sobre a fé, deverá ocupar lugar de destaque nesta fase de Bento XVI. Numa recente polêmica, deixei claro que ser católico não significa pagar mico para o conservadorismo, para a babaquice, para a inocência útil e outras bobagens. Sempre é bom lembrar que os historiadores que sepultaram a idéia da Idade Média como sendo Idade das Trevas colocaram a escolástica, a concentração intelectual dos monges, na raiz do Renascimento. O exemplo mais gritante, que perdura até hoje, é a estruturação dos livros, em capítulos precedidos de uma apresentação, uma metodologia que deu grande impulso ao pensamento humano. Cada um de nós é fruto da fé, já que somos criaturas misteriosas que acreditamos piamente ser este o nosso nome, ser esta a nossa origem e ser esta a nossa cultura. Somos no fundo animações biológicas que se formataram em seres culturais. Somos o abismo que encontraram um rosto.

AMIGOS - A foto em destaque neste sábado, na página C3 do Caderno Cotidiano, da Folha de S. Paulo, traz a mão adulta de uma mulher sendo agarrada pela mão da setemesinha Dandara, filha que nasceu depois que a mãe foi assassinada. A tragédia está estampada nos jornais e aconteceu na minha terra, Uruguaiana. A imagem, belíssima, é do meu amigo Anderson Petroceli, um dos maiores fotógrafos do país, um apaixonado pela própria cidade onde nasceu e cresceu e onde vive com a esposa e cria o filho. As fotos que Anderson faz de toda a região da fronteira são absolutamente antológicas. Sobre várias delas fiz poemas exclusivos, que um dia serão publicados em forma de livro. A meu pedido, ele fotografou o interior da Catedral de Santana, levou-me para visitar a velha estação ferroviária da cidade, foi o primeiro a me reconduzir à rua da minha infância. Uma pessoa especial, que merece ser reconhecido como um dos grandes do Brasil. Não por acaso, Anderson Petroceli figurou na minha lista dos melhores de 2004.Outro destaque da lista foi Miguel Ramos, que tornou-se o mais popular ator do festival de Recife, que encerrou-se dia 19 de abril, tenho recebido o prêmio de melhor ator coadjuvante. Sempre tive fé em Anderson e Miguel. Era só uma questão de tempo. Outro amigo que entra em ebulição e está a mil é Marco Celso Viola, mas este ainda vai dar muito o que falar. Quando explodir, lembrem-se aqui do Diário da Fonte, o jornal do Brasil soberano.

REVIRAVOLTA - Tenho ocupado mensalmente um espaço de crônicas no Diário Catarinense. Este domingo é dia de texto meu, ilustrada por este magnífico artista que é o Samuel Casal. A crônica é a ampla janela onde nosso texto se debruça para o infinito. Gosto quando acerto o tom de uma crônica clássica, com personagens bem definidos, situações claras e encadeadas, com uma riqueza de cruzamentos de leitura que levam a inúmeras paisagens. O espaço generoso que me concede o DC está sendo, segundo soube, bem recebido pela comunidade literária local. E recebo carta de leitores que se entusiasmam com os temas enfocados e dão sua contribuição. Meu objetivo, claro, é ter um espaço diário na mídia impressa, a exemplo do que tenho aqui no blog Outubro. Há três anos escrevo praticamente todos os dias aqui. Já escrevi uma montanha de livros neste espaço. Um dia sai a coleção completa. Enquanto isso, vejo fotos ensaiadas mostrando escritores sentados de maneira cool em suas enormes e amplas bibliotecas, sendo badalados pelos amigos editores em jornais de grande circulação. Está na hora de virar o jogo. Está na hora de acabar com a ditadura. Está na hora do talento oculto escancarar as portas da mídia oficial. É o que já está acontecendo.

PERDÃO - A Igreja precisa ser perdoada pela Inquisição, já que pediu perdão pelos crimes que cometeu. Quando Ratzinger assumiu a Congregação da Fé, exerceu o cargo, zelou pela doutrina. Agora o cargo é outro. Você, gerente, você, chefe de equipe, você trabalhador da Abril ou do Estadão, quando trabalha, exerce funções e cargos à altura da sua investidura. É o que acontece em qualquer atividade humana. Todos estão na contingência dos seus espaços. Se a Igreja liberar o aborto, Ratzinger deixará de ser nazista? É preciso ter fé, esperança e caridade. E cerveja ao cair da tarde.

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