3 de setembro de 2005

O QUE DIZ A PUBLICIDADE




A publicidade oficial diz que as mortes por armas de fogo diminuíram no Brasil. De 39 mil em 2003 teria passado para 36 mil em 2004. Isso continua sendo um Vietnã por ano. Diminuiu coisa nenhuma. Fica parecendo a piada do João Grosso: Morreu de pneumonia simples? Menos mal. Parece também propaganda para o próximo plebiscito sobre o desarmamento, uma das muitas campanhas de marketing do atual governo em estado terminal. Prefiro o jornalista Luis Mir, que diz o seguinte: "O atual número de vítimas fatais por armas de fogo - 41 mil pessoas assassinadas em 2004 (SIM/DATASUS/MS) - tem um efeito devastador sobre as famílias: a gravidade das seqüelas que se produz na saúde física e mental das pessoas, com a desestruturação familiar completa". Essa idéia que matamos menos é idêntica ao repasse feito pelos recados publicitários. Existe apelo para várias ações anti-sociais, tudo sob chancela de grandes anunciantes e com a conivência completa da mídia (a mesma que foi conivente com o superfaturamento da publicidade oficial, denunciada nas CPIs). Junto com o massacre, a panacéia: seja gentil, seja solidário.

VIBRAÇÃO - Um anúncio de guaraná diz o seguinte: você bebe o conteúdo de uma latinha e imediatamente cai de boca no parceiro ou parceria ao lado. Bastam os 200 mililitros para você fazer sexo adoidado. Quem anuncia o poder do refrigerante é um engravatadinho baitola, que ao lado de um casal jovem se chupando depois de beber a gororoba, faz um gesto bem bicha. Confesso que não entendi. Outro de shampu de cabelo mostra um cara de olho na mãe de um garoto. Mas o garoto faz cara feia e abraça a mãe e seus cabelos sedosos. O cara que estava de olho fica frustrado. O que quer dizer isso? Vai olhar para a sua mãe? Um anúncio, também de refrigerante, parece propagar o ecstasy. Você bebe e sai correndo, pulando, gritando. A onda frenética passa de pessoa a pessoa e toma conta de comunidades inteiras. Uma versão light faz um cara escorregar como se estivesse num skate pelas ruas. Ele está enlouquecido depois de beber o purgante. Um anúncio de carro propõe uma suruba dentro do lançamento da fábrica: como é um compacto com grande espaço interno, cabe uns caras de avental (fantasia dos falsos especialistas) com suas colegas de serviço. A suruba é garantida por um segurança engravatado, que abre a porta para a gang entrar. O nerd quase fica de fora. Sinal que não estava entendendo nada. Avental é praga: o senhor grisalho vestido de branco com a voz trêmula de sabedoria implícita diz que tudo foi comprovado para quem tomar determinada pílula ou usar certo creme dental. Sem falar no idiota do varejão: vai por mim, diz o imbecil, e compre sem parar estes produtos por micharia/mês e nem preste atenção nos juros embutidos.

BAIXARIAS - O repeteco de tais mensagens é insuportável. É dia e noite sem parar, meia dúzia de anúncios apelando para baixos instintos e maus hábitos (seu pai é um trapaceiro, sugere uma campanha de produtos de telecomunicação, ele mente ou então cobra a conta das mesadas que deu para o filho). Em compensação, tem a campanha que nos ensina ser gentil e mostra as inúmeras vantagens do que deveria ser obrigação de todos. Seja honesto e bonzinho que serás recompensado. Gastam bilhões nesse tipo de droga. Não vamos esquecer as propagandas das estatais. A mãe que queria despachar o filho idiota via entrega rápida, por exemplo, é um exemplo da campanha maciça desenvolvida pelo obscurantismo da TV, que opõe pais e filhos, homens e mulheres, pois é importante que o tecido social se descosture para que a cidadania não tenha força nenhuma. Nesse caos eles implantam a defesa das tartarugas e o ensino da capoeira como s a salvação da lavoura. Agora até as séries da TV estão com mania do politicamente correto. O novo herói é Pedro da Boléia, interpretado por Antônio Fagundes em Carga Pesada, que ensina guarda a não ser corrupto e pai de família alcoólatra a voltar para a casa. A mídia ajuda a destruir a coesão social e nesse vazio preenche de mensagens corretinhas. Claro que ela implanta a salvação cobrando caro na publicidade.

GOVERNO - A solução é tirar o Estado das mãos dos grupos poderosos da mídia. Assim poderemos ter políticas públicas voltadas para as necessidades do povo, que precisa de ação e não de mentiras, maus conselhos ou campanhas bem remuneradas cheias de boas e falsas intenções.

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