17 de janeiro de 2006

AS PALAVRAS DA NOVA DIREITA





Processo, transição, democracia, em desenvolvimento: a descoberta de que o mundo muda fez com que o pensamento conservador se apropriasse do discurso da transformação para torná-lo um aliado. Então as coisas nunca são como são, elas estão evoluindo, para pegar um conceito fundamentalista da moda. Isso faz parte do jogo democrático, dizem os conservadores diante das críticas. Estamos numa época de transição, para justificar que nada mudará nunca, já que se consolida essa idéia de uma coisa estar virando outra, ou seja, jamais é ela mesma, portanto jamais chegaremos ao final. E se chegarmos, será sempre algo a ser conquistado mais na frente. É como a brincadeira do dinheiro amarrado num fio de linha de costura. O fio é invisível, a nota está ali, no meio da calçada, dando sopa. O senhor muito distinto olha para todos os lados naquela tarde de verão, vestido que está com seu terno de linho branco, levanta a barra das calças para poder se abaixar lentamente e quando vai empalmar a nota o moleque escondido atrás do muro puxa o fio. É o fim de uma biografia. É um processo, entende?

JABÁ - Falando sobre Jabá, o ministro Gilberto Gil diz que o Minc até pode tentar acabar com esse tipo de negócio existente hoje no Brasil (a expressão é dele), e talvez esse esforço não seja exitoso (a expressão também é dele), mas deve-se tentar, entende? Quanto palavrório. Acabar com o jabá é acabar com o jabá, é impedir que a grana do Tesouro vá para mãos privadas de maneira ilegal ou ilegítima. Quem está no ministério sabe. Se existe jabá, é porque alguém dentro do processo (entende?) está por dentro. Então vamos parar com essa conversa para boi dormir, parar de se acusar de estalinista ou de assumir que é elite ou sei mais o quê, parar de dar um milhão de reais para o cineasta chinfrim filmar a encarnação do coisa ruim, parar de brigar por grana, parar com tanta indiferença e aplicar dinheiro onde se deve, e onde se deve todos sabem: não existe cultura sem educação. O velho MEC é que estava certo. Você impõe o ensino musical desde a primeira infância e o resultado é Cartola e Dorival Caymi. Você ensina francês e inglês no ginásio e o resultado é JK deslumbrando a imprensa francesa com sua lábia nessa língua em que até passe o alho soa bonito. Você transforma uma estação de radiofusão num centro de disseminação da cultura brasileira, incentivando e contratando grandes talentos, como a rádio Nacional, e você não só gera centenas de artistas de primeiro time como ainda ganha de brinde uma bossa nova. Você não libera milhões de reais para um ou deixa de liberar para outro. Não é assim que se faz. Pega esse milhão para o coisa ruim e manda sanear as escolas, passar uma pintura nelas. Começa daí.

SESTA - A indiferença é a mãe de todos os males. Como não temos cultura, ou seja, a cola que gruda espíritos em algo existente, e sim produtos culturais atirados a esmo, sendo a maioria da pior qualidade, e o que é bom está oculto, inacessível ou não faz mais o sentido de antes, então o que você tem é uma sesta gigantesca no deserto antes do Juízo Final. Você fez um poema? Que bom pra ti. Publicou um romance? Deve ser chato. Está criando um filho? Isso qualquer um faz. Conseguiu salvar uma empresa? Viraste conservador, hem. Alguém morreu? Ah, bom. Compraste uma casa? Mas que bairro pobre escolheste para viver. A única coisa que realmente emociona é dinheiro. Experimente um dia ter dinheiro, verá como todas as portas se abrem, como sorriem para ti, como te convidam para tudo. Mas confesse que você está duro. Estarás no limbo, o não lugar para onde nos tocam quando ninguém tem nada a ganhar conosco. Pareça rico, que jamais alguém te ofenderá. Seja correto, mas demonstre sua precariedade financeira e serás tratado como bandido. É assim que funciona, entende? Estamos numa época de transição. "Quando não houver mais classes", como disse o ministro Gil, às gargalhadas...A indiferença é não dar crédito às próprias palavras. Isso faz parte do jogo democrático. Entende?

RETORNO - Outra foto do Olhar Absoluto, Marcelo Min. Se eu fosse o Minc, contratava talentos como Min só para continuar trabalhando com total liberdade. O Brasil ganharia mais do que com tantas inutilidades vivendo às custas do dinheiro público.

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