28 de março de 2006

QUANDO A MENTIRA ARMA O ESCÂNDALO





A verdade, na infância, faz parte da vida social. A criança fala o que sente e pensa para quem quiser ouvir. Quando chegamos na idade adulta, a verdade migra, não totalmente, para o foro íntimo. Fica complicado dizer com todas as letras que estamos mentindo para sobreviver, mas isso geralmente acontece. Para os longevos, esse processo acumula alguns esqueletos no armário. Mas chega uma hora da vida que a curva inflete sobre si mesmo e eis que nos vemos novamente livres, como se estivéssemos começando. Essa libertação, que pode ocorrer em qualquer idade, livra não só a pessoa do remorso, mas contribui para que a nação também se torne adulta com mais responsabilidade. O que vemos hoje na vida pública é uma sucessão não só de mentiras, mas de crimes fundados na inverdade. O Ministro Palocci caiu porque o segredo do caseiro foi violado, e foi violado para que a mentira triunfasse. Não é justo, portanto, que seja tratado com tanta reverência pelo noticiário, nem que sua política econômica fique imune às críticas. Se a pessoa, conforme as evidências e os resultados do evento, mente para destruir uma pessoa do povo que fez um depoimento, imaginem o que é capaz na condução das nossas vidas.

ARAPUCA - A verdade é que estamos todos presos numa armadilha. Quem acreditou no Lula precisa que ele não seja envolvido nos escândalos, pois isso iria colocar a perder vidas inteiras dedicadas à militância que acabou resultando num governicho. Quem trabalha na Globo está preso a um monstro, a consolidação do imaginário que arrocha o país na ditadura. Duvido que grandes atores adorem estar fazendo programas pífios. A Globo se tornou tão poderosa que é preciso, a bem da sanidade do país, confrontá-la com todas as forças. Não para ser substituída por coisas como as redes do Bispo Macedo, de Silvio Santos ou da Rede TV! Mas para que se desate o nó dessa herança maldita, esse peso que o fundador da rede colocou na mão dos seus herdeiros e que tende a se perpetuar se nada for feito.

OPOSIÇÃO - As tentativas de confrontá-la deram poucos resultados. Livros e filmes sobre os excessos da rede tornaram-se praticamente marginais, enquanto o plim plim continua firme, sem adversários à altura. Na internet, sobram críticas, mas tudo fica por isso mesmo. A luta contra a mentira personificada na TV brasileira precisa ter oposição, sob pena de sucumbirmos para sempre. O fato de podermos nos libertar desse jugo fará bem não só a quem se opõe à Globo e suas clones, mas aos que estão dentro e não tem como sair (e quando saem, voltam correndo).

DOMÍNIO - O que é mais grave é que a TV não se contenta em mentir apenas na telinha. Está começando a dominar a produção de filmes e entrou pesado na área de livros. Isso cria um círculo horrendo de servidão. Na área de responsabilidade social, ao invés de termos políticas públicas perenes e eficazes, temos iniciativas cacifadas pelos meios de comunicação (que usa o dinheiro público) para dizer o quanto poderemos ser politicamente corretos, preservando tartarugas e ensinando capoeira.

SABOR - Conversa de padaria, de Fábio de Lima , A voz do dono, de Deonísio da Silva, "Cicilha kirida", de Cecília Giannetti e Estranhas relações, por Anna Lee, inauguram o espaço Literário do Comunique-se (link ao lado). Textos saborosos, saudados como uma boa respirada em meio a tantos releases. Urariano Mota faz parte do time e já esquentou os tamborins para entrar na avenida na sexta feira. Amanhã, quarta, é minha estréia. Comentários serão bemvindos.

RETORNO - Fausto Wolff, na sua coluna do JB, colocou o seguinte: "PS: Tive de saber, através da imprensa italiana do sucesso que faz naquele país um romance brasileiro do qual os nossos cadernos literários decidiram não tomar conhecimento: o belo Os corações futuristas, do pernambucano Urariano Motta". Enfim, justiça ao mais importante romance brasileiro dos últimos 20 anos - como foi batizada por mim a obra aqui no DF e no jornal Rascunho.

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