20 de maio de 2006

PEDRO SIMON: REFUNDAR A REPÚBLICA





No site do senador Pedro Simon, pode ser visto e ouvido seu discurso de dez minutos sobre a obrigatoriedade de o PMDB apresentar candidatura própria, contrariando assim os caciques José Sarney e Renan Calheiros, que são achincalhados nesta manifestação que poderá mudar o rumo da campanha eleitoral, atualmente às voltas com as duas faces da mesma moeda da ditadura civil. É uma aula de política, não só pelo conteúdo, em que prega a união nacional a favor de um projeto de salvação do país, mas pelo tom da voz, pela postura, pela veemência, pela emoção que transmite e pelo compromisso de não fazer dessa candidatura própria uma ponte para o enriquecimento ilícito. É sintomático que o senador de 76 anos use a sigla MDB, como a resgatar as origens de uma luta, que se desvirtuou com a morte de Tancredo e a presidência de Sarney, o fundador do atual regime. Simon prega a união do partido, mas joga fora os caciques que hoje são responsáveis por inúmeros cargos deste governo traidor, que pelas evidências (e a conclusão do Procurador Geral da República) no mínimo deixou roubar.

ADVERSÁRIOS - Votar novamente em Lula é expressão máxima de obscurantismo. Você insiste não só em reeleger o traidor, mas ainda me convencer que ele não é a bisca que é? Então somos adversários, não vou compactuar com isso. Você insiste que Lula é de esquerda ou representa a esquerda, quando ele mesmo admitiu que não faz parte dessa corrente? Então você é tão traidor quanto o Lula. Você acha que Lula não sabia de nada, do seu entorno que veio com ele do PT e que tudo não passa de armação da direita e da mídia comprada? Então você não está raciocinando, não enxerga o que é fato e o que é manipulação e usa o ódio dos reacionários para justificar tudo o que este governo representa: esvaziamento das lutas populares, aprofundamento da crise institucional e econômica. A direita tem culpa hoje e sempre desse quadro? Claro que sim, mas a direita não tem compromisso com o país, apenas com seus interesses e ideologia. Lula tinha um compromisso e traiu. Manteve anos um ministro na Fazenda que sufocou a nação e foi expulso como um meliante qualquer. Até hoje tem como conselheiro uma pessoa que foi expulsa do Congresso e foi acusada de chefe de quadrilha.

GOVERNO - Eu já me decidi. Vou votar em Pedro Simon, mesmo que ele faça parte desse partido que foi um desastre no governo Sarney. Votarei em Simon não só por sua biografia, mas porque ele teve noção histórica de virar o jogo numa hora trágica como esta. Não há como duvidar da sua sinceridade e de sua análise. Ele garantiu, e decidi acreditar, que o candidato que sair da convenção (só se for ele; Itamar e Garotinho não servem) não vai compactuar com o arrocho da atual política econômica e da dívida externa. É impressionante como arregar as calças para os gringos é uma espécie de consenso e dignidade intelectual entre muitos jornalistas. Eles não só acreditam nisso, nessa coisa irreversível, como pregam. Passaram décadas apoiando desde Roberto Campos a Pedro Malan, desde Delfim Netto a Palocci, que fazem parte da mesma súcia de entreguistas e vendilhões. Por que não vou votar nos partidos trabalhistas? Porque o PTB está abaixo da crítica e o PDT é de uma modorra sem fim. É capaz de colocar esse mosca morta do Cristóvão Buarque, egresso do PT, para defender educação (é a mesma tese de Lula, pregando estudos no meio do tiroteio). Educação não se prega, se exerce. Educação não é panacéia. Solução é governo. E com Simon, teremos governo.

RESPOSTA - Sei, vou votar em Simon só porque ele é gaúcho. Só, não. Mas o Rio Grande do Sul é uma escola política e seus quadros formados no estado tem tradicionalmente um senso de responsabilidade diante do destino da nação. Viemos de longe e fomos formados na guerra. Meu pai lutou em duas guerras, minha mãe, muito menina, se escondia em baixo da cama para escapar das balas que pipocavam na janela. Um povo criado na luta não vai ficar de braços cruzados diante da incúria. Grande parte dele foi enganado e ludibriado por esse traidor que está no poder fazendo asneira e sendo tratado a pontapés por seus amiguinhos cucarachos. Pelo menos isso: nós, os gaúchos, sabemos o que é um sujeito ambicioso na vizinhança do continente. Lutamos séculos contra eles. Os gaúchos também produziram os piores ditadores do Brasil, de Médici a Geisel. Têm uma dívida com a nação soberana. Simon é a resposta. Penso na sobrevivência do país.

RETORNO - 1. Enviei mensagem ao senador Pedro Simon dizendo que votarei nele. Não é grande coisa, pois minha influência política é zero. Mas exerço a cidadania e insisto que vivemos numa ditadura, a não ser que coloquemos na presidência a pessoa certa. Não sou, nunca fui e nem serei jamais do PMDB, esse partido que tem Quércia em seus quadros. Mas acredito que a força institucional de um presidente pautado pela correção poderá devolver a paz e a grandeza ao país. 2. Claudio Lembo colocou a boca no trombone na coluna social da Folha. Está sendo muito festejado. Foi tão conivente quanto Alckmin nesse goiverno paulista que se rendeu ao crime. 3. Parece que José Genoíno esta de volta, reclamando que o colocaram no limbo. Esqueceu os motivos, de que é suspeito de fazer parte de um sistema de desvio de dinheiro. Quanta injustiça, não é mesmo? E eu, que votei em Genoíno e Lula. E também um dia em Fleury e Quércia. Votei no cabresto, votei útil. Agora votarei consciente. A não ser que o candidato do PMDB seja outro. Aí vou reavaliar meu voto. 4. Quer dizer que agora o Diário da Fonte pode ser usado como moeda política? Não, não pode. O que escrevo aqui é uma posição contra a ditadura, representada por Lula e Alckmin. No caso, a ditadura das chapas eleitorais viciadas, que não oferecem uma solução. Simon propõe uma saída: um governo sem os vícios do fisiologismo e sem a política econômica de arrocho. E sem os equívocos do PMDB de Sarney. Minhas palavras não são a favor do PMDB, mas de uma candidatura que pode resolver o impasse gerado pela ditadura. Não se deve usar o texto de um homem partido. Apenas considerá-lo um exercício livre de um cidadão exausto. 5. Simon nasceu em 1930, quando foi fundado o Brasil Soberano. Tinha 34 anos quando esse projeto foi abortado. Aos 76, Simon tem seu momento decisivo. Nessa hora, ele não pode ficar só no que prega e assume.

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