6 de junho de 2006

EXPLODIU O BABACÔMETRO





Depois de duas semanas de mergulho no cinema contemporâneo, o Diário da Fonte emerge e olha em torno. Estamos em plena festa, celebrando o Brasil que não existe mais. Se a seleção realmente vencer mais esta copa, não haverá "volta" para casa, pois todos moram no estrangeiro. Se houver, será virtual: eles chegam, desfilam em carro aberto, visitam os parentes e as autoridades e aí sim voltam para casa, que fica do outro lado do mar. Só Ricardinho, Mineiro e Rogério Ceni, o Brasil no banco, são da casa. Se não vencer, e isso é uma possibilidade, o fato de morarem quase todos fora do país será um alívio, para jogadores e população.

O espírito nacional não pode se sustentar apenas com o marketing e ser alimentado pelas reportagens que explodem o babacômetro, aquele aparelho de medir babaquice que não dá vencimento para tanto com-certezismo, bolhas no pé, sambinha no ônibus, treze letras. Sem falar no festival de tetas, braços ao alto, tamborins de araque e os gritinhos de iúhús da torcida bem arranjada. A única coisa que se salva, apesar do ufanismo das transmissões, do autismo narrativo, da cara de pau do monopólio, da avalanche de bastidores, é a formação dos atletas, a porção Brasil que ainda define sua arte. E que faz a diferença em campo, mas nem sempre.

PASSE - Apenas essa arte deveria ser celebrada, mas ela é apenas explorada pela multidão de sanguessugas, que alegremente entregam o país para a máquina de fazer dinheiro de todas as nações do mundo. O garoto domina a bola: O Turquistão já compra o passe dele, com família e tudo, por cinco gerações. Fez um gol decisivo no torneio da escola? O Bahreim quer. Tem 30 anos de profissão e ainda joga na Terceira Divisão do Brasileirão? A Eslobóvia Meridional manda um jatinho buscar. Fez bonito no campeonato? Já é do Milan. Deu um chapéu em meio time? O Barcelona tem o maior banco da história do futebol para abrigar todos os craques. E por aí vai. Não somos mais celeiros de craques, somos currais, somos aquele cenário de Matrix em que milhões de seres são conectados num sistema gigantesco de ilusão me opressão. Vivemos, para abusar do lugar comum gerado pela série de filmes, o pesadelo do real. E o babacômetro é apenas um utensílio sem uso, já que liberou geral. Não esqueça de gritar húúú e colocar a mão na cabeça quando a bola passa raspando. Todos fazem isso, por que não você?

SORRISINHOS - Ficou insuportável o tom insinuante dos repórteres, sempre com a mesma ladainha, que levam a mente do espectador para o suspense, a emoção ou a surpresa, com fechos gratificantes de sorrisinhos cúmplices. São gigolôs do futebol, essa arte inventada pelo povo, a partir das regras inglesas do jogo. Ficam dependurados na fala dos jogadores, como se jogador fosse obrigado a dizer coisas, a trabalhar para a mídia. A linguagem do craque é outra, insuperável. Ao jornalista cabe criar um texto à altura da excelência desse ofício. Mas o que vemos são comentários toscos, joguinhos mentais de dominó, quebra-cabeças de almanaque, como se o futebol obedecesse ao design da mediocridade intelectual.

LEI - A mídia acompanha o que está na superfície, já que abomina qualquer análise mais aprofundada. Dançou solenemente na final de 98, perde a esportiva quando o Brasil está perdendo, mas são os primeiros a cheirar sovaco quando a vitória suada chega com tudo. Há oportunismo nesse falso jornalismo que se divide entre os monopolistas e os subalternos. Há bons jornalistas, mas são raros. A culpa não é deles, é da lei: seja babaca, porque o povo é babaca. É o que deve estar escrito em algum lugar, já que todos obedecem.

RETORNO - 1. A foto é de Helcio Toth - O jogo de luz e sombras. 2. No site http://bolarolando.blogspot.com, alguns jornalistas saem da mesmice na abordagem do futebol. 3. E já que voltamos à tona, vamos ao que pega: "O senador Pedro Simon (PMDB-RS) classificou hoje, durante entrevista à rádio Guaíba, de Porto Alegre, de escândalo a renúncia do magistrado da Justiça Federal de Brasília que estava indicado para ser relator do recurso em que setores do PMDB pedem a manutenção da convenção nacional, marcada para 11 de junho. Segundo o parlamentar, o magistrado é o mesmo que em decisão anterior deu parecer favorável a recurso da ala pró-candidatura própria. Para o senador, o que chama a atenção é a alegação do juiz, de que não suportou as pressões. O senador disse estar preocupado, mas espera que a juíza convocada para examinar o recuso tome decisão corajosa. Simon reiterou que se a convenção for confirmada para o dia 11, pretende submeter o seu nome ao PMDB, apesar da força da ala governista que não quer candidatura própria. (Fonte: Rádio Guaíba)" .

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