1 de julho de 2006

A DERROTA E O DIAGNÓSTICO

Perder para a França significa confirmar o diagnóstico feito antes da derrota? As críticas decidiram que Ronaldo estava fora de forma, que o esquema tático não funcionava, que faltava atitude e que o Brasil não tinha ainda enfrentado uma seleção à altura. Será tudo verdade? Ou vamos apostar em outras probabilidades, só pelo exercício de não nos entregarmos às evidências do consenso e às profecias do passado (viu, eu não disse? é a principal delas)? O que me impressionou é que pela primeira vez entendi porque perdemos a final de 1998. Sempre achei que algo havia embaixo daquele angu, e que tinham nos "roubado" a taça, pois era impossível que não tivéssemos entrado em campo. Só que aconteceu de novo! Ficamos imobilizados diante do volume de jogo da França. Se tivéssemos perdido com o mesmo time que foi tão execrado nos dois jogos iniciais, mas Parreira resolveu desta vez avançar Ronaldinho Gaúcho, tirar Emerson e colocar o festejado Juninho Pernambucano. Fez o que pediram, com exceção de aposentar Cafu e Roberto Carlos. Sem querer entrar no mérito galvãobuênico das análises autistas, minha intenção é destacar o quanto Parreira foi flexível, mudando tudo no jogo contra o Japão e entrando nesta decisão sem as suas certezas estratégicas, o que lhe foi fatal. Mas resta o mistério: por que não jogamos, pela segunda vez, contra a França?

TRAGÉDIA - Não vou arriscar palpite nem diagnóstico, sou apenas um espectador diante da tragédia. Vi antes do jogo o que todo mundo notou: a festa que os franceses fizeram para os panacas brasileiros, que se comportaram como aqueles nerds que ganham uma atenção fulminante e passageira dos chefes da gang e ficam a falar sozinhos, rindo com satisfação por agora serem da tchurma, enquanto os espertalhões se afastam para depois matar o jogo, aproveitando o que aprontaram, ou seja, a desconcentraçao total dos adversários. Já comentei aqui o lance em que Romário fez festa para um goleiro do Madureira que defendia todas. Foi só apertar a mão do cara para o Baixinho fazer um gol no minuto seguinte. Ou seja, nos emocionamos com antecedência, esquecendo 1950. Ainda colocaram Cafu lendo aquele manifesto anti-racismo, o que ajudou a tirar a concentração da equipe (numa decisão, não leia nada antes do embate). Eles vieram com tudo, pois estavam solidários, enquanto nós ficamos esgarçados por uma série de eventos. Vamos a eles.

PARTIDOS - Adriano (que fez falta ao time por não ter entrado no início do jogo) negou entrevistas à imprensa brasileira, porque se sentiu perseguido. Kaká juntou-se ao coro dos descontentes depois do primeiro jogo, insinuando coisas contra Ronaldo. Parreira reclamou que estava num gigantesco Big Brother. Juninho pressionou para entrar e bastou fazer um gol para ser encarado como um grande problema (Parreira foi na onda, convocou Juninho para o início da partida e Juninho praticamente não apareceu, como o resto da seleção). Estávamos partidos. Ronaldo Fenômeno teve que retrucar ao presidente por ter sido alvo de um comentário desastrado sobre seu peso (vindo do chefe da nação, teve um peso enorme, não só por ter repercutido na imprensa, mas dentro da CBF, o que colocou o craque em posição desconfortável). Todos esses detalhes somados contribuíram para a tragédia. Mas não explica totalmente. Porque deixamos os caras jogar tão à vontade? Eles têm um time, alguns craques, mas não poderiam ter deitado e rolado dessa maneira (com o Zidane dando chapéu em Ronaldo). Entregamos de bandeja nosso prestígio, tendo que aturar ainda Robinho aos abraços com Zidane.

MONOPÓLIO - Vamos ver a imprensa, já que imprensa não há, há monopólio. Na maior cara de pau, o Galvão Bueno veio com essa: coisa impressionante como o povo brasileiro ficou grudado na Globo. Pudera, não há outra opção na TV aberta! Não houve jornalismo, apenas carona na vitória, insumo gigantesco para a avassaladora publicidade. Não aguentava mais ver o Ronaldinho Gaúcho vendendo de tudo um pouco (até mesmo quem não devia, mas deixa para lá). Não há limites para a insânia? No fim, os destaques foram Dida (ao longo da Copa) e Zé Roberto e Lúcio. O resto se apagou. Os jornalistas encheram o reduto dos jogadores de todas as formas e o grupo não conseguiu ficar coeso, como em 1994 e 2002. Deixou-se abater pelo gado da mídia. Esporte é concentração, solidariedade, espírito de grupo. Achei que tínhamos aprendido a lição em copas anteriores. Vejam o caso de Portugal: Felipão contrariou todo mundo, cartolas, imprensa, como fez aqui conosco, e criou um grupo coeso, que aguentou firme até o fim. É candidato ao título, de novo. É a nossa aposta, de agora em diante. Não só por ser brasileiro, nem só porque não queremos que os adversários avancem em cima do nosso penta, se aproximando dele. Mas porque Felipão merece. Ele joga junto com o time. Intervém o tempo todo. Enxerga os furos, alerta, grita, avisa. E põe o goleiro que bem entender.

PELÉ - Mas não podemos enterrar Parreira com nossa decepção. Gosto do treinador e achei que ele vinha fazendo certo até hoje. Quando mudou o time na última hora, desconfiei. Lembrei do Pelé, que ajudou também a desconcentrar o grupo, ao falar que estava com um pressentimento. Está pensando que haverá derrota? Fica quieto Pelé. Como disse um dia Romário: o Pelé calado é poeta. Nunca uma frase foi tão bem aplicada. Mas Pelé também mereceu todas as homenagens. Só precisa ficar atento à força das suas palavras. Ele é o craque imortal e deve aceitar que existe outra geração vencedora, esta que agora se retira, mas que já ganhou muita coisa.

ZIZÃO- O Ronaldo é o maior goleador de todas as copas, teve alguns grandes lances, mas toda a imprensa brasileira caiu mesmo é de boca no Zidane. Bastava o sujeito pegar a bola para o Galvão Bueno, o eterno, se molhar: mas que categoria! O repórter que fez a cobertura para o Jornal Nacional dizia: este homem estava na área! É a velha síndorme do vira-lata. Achamos os estrangeiros o máximo. No fundo, foi mais uma derrota do Brasil Colônia. A seleção canarinho é um dos últimos redutos do Brasil, apesar de todos jogarem no estrangeiro (mas foram criados aqui). Os franceses disseram, antes do jogo, que os brasileiros jogam mais futebol porque não têm escola, vivem no campinho, enquanto eles precisam estudar. Mas que caras de pau. E o Cafu (tiau, Cafu) ainda achava isso muito bom, muito correto. Deve ter entrado babando diante dos baratas descascadas. Puxa, Zizou, me dá um autógrafo. Puxa, puxa, puxa.

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