17 de julho de 2006

NOVA GRAMÁTICA




O pesadelo da linguagem continua firme. Normalmente é disseminado pelo som da voz de taquara rachada, em ambientes fechados e irreversíveis, como elevador ou ônibus. Ou em situações constrangedoras, como reencontros forçados. Ou em spams. Não é possível escapar, por isso merece vingança. Aqui, alguns exemplos.

O meu melhor - Novo verbo, que deve ser conjugado assim: o meu melhor, o teu melhor, o melhor dele /dela; o nosso melhor, o vosso melhor , o melhor deles/delas.

Não parou mais - A obrigatoriedade inercial das vidas profissionais. Vidas assim são um ameaça ao trânsito. Muito usado para grandes personalidades que já bateram as botas.

Não é bem por aí - O conceito de por aí é rígido: é onde mora a argumentação alheia, ou seja, o lugar inexistente onde os outros depositam suas convicções.

Diferenciado - É a atual opção para quem quiser manter-se sempre o mesmo. Todos são diferenciados, portanto, não saia da fila.

Com certeza - A certeza, paradoxalmente, não pode prescindir de sua muleta, o com. Sozinha, certeza não significa nada. E sem certeza não existe.

Não acredito - Nesta época de fundamentalismos, o que impera é a falta de fé, principalmente quando dois cérebros prejudicados se encontram.

Melhor agora - Denota, pelo avesso, indiferença com a aproximação alheia. Significa: agora que você chegou, não há perigo de melhorar.

Brigadão - Agradecimento usado pelo espírito burocrático dos folgados. Tem o aspecto intenso, mas é oco, pois sucumbe com seu antídoto, a expressão brigado eu.

Mix - Conjunto de produtos com embalagem cool. Você não tem uma série de itens, você tem um mix. Serve para emprestar charme ao vendedor.

Você está ótimo - Sinal que você envelheceu miseravelmente a olhos vistos, e ainda vai pagar muito mico toda vez que encontrar um chato.

Onde você está? - Quem faz essa pergunta está empregado, então ele tira um toco de você, que não está. Responda sempre: no mesmo lugar.

Está muito bom - Expressão usada pelos que perguntam o valor do teu salário. Quer trocar? é a saída clássica, mas já ficou fora de moda.

Amei - Tem gente que ainda diz amei. E não adianta virar-se para o emissor e fazer cara de cachorrão. Quem diz amei não se impressiona com nada.

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