28 de setembro de 2006

OS FALSOS MARQUETEIROS





Já que estamos numa ditadura, como atesta a política econômica que suga a nação com uma dívida impagável, sem que nada ou ninguém possa contra ela; já que a ditadura não admite contestações, como provam as campanhas dos candidatos mais notórios, todos a favor da tunga internacional; e como numa ditadura todo mundo tem que calar a boca, então é imprescindível que o jornalismo morra. O que é jornalismo? É a pauta (a escolha dos assuntos) livre, sem a interferência do departamento comercial, do patronato, dos anunciantes, do governo, das máfias. É a reportagem elaborada e destacada com absoluta isenção, sem que os cretinos e falsos marqueteiros venham te dizer como é a que a coisa funciona. Como não pode haver jornalismo numa ditadura, então impera o desplante dos falsos marqueteiros, que se aproveitam da ditadura para tergiversar sobre o que acham ser jornalismo.

TRUQUE - É o velho truque de sempre: não importa o veículo, os leitores, importa são as páginas coloridas caríssimas que eles negociam falando mal dos jornalistas. Um dos objetivos do falso marketing - não a verdadeira seriedade publicitária, que anuncia sem interferir e depende da credibilidade jornalística para passar seu recado - é sucatear redações. O falso marqueteiro odeia redações. Adoras maçanetas, aquela porção da humanidade que faz tudo o que eles mandam. O truque funciona assim: Este jornal ou revista que existe há décadas está ultrapassado. Vejam que maravilha é esta revista viada que estou te passando para aprenderes o que é bom para a tosse. Vai, te inspira nessas merdas, que eu preciso tirar pedidos de anúncios (eles não sabem o que é credibilidade de um veículo, por isso não conseguem trabalhar esse conceito tão estranho na hora de conseguir publicidade). Então destroem o veículo fazendo um desses projetos com enormes espaços em branco (a falsa publicidade adora espaços em branco), gente-bem (como diziam nos 50) em pose cool, nada de conteúdo, textos sobre o Mesmo e fotos que custam os tubos. O falso novo veículo dura mais alguns números. Sem redação, o troço não vai para a frente, já que os jornalistas que faziam acontecer foram sumariamente afastados ou subjugados. Depois de um tempo, a revisteca oun jornaleco vai para o brejo. Então os falsos marqueteiros vão alegremente para outra empresa aplicar o mesmo golpe.

COFRE - Assim vão fechando mercado de trabalho, tornando tudo a mesma coisa (olhe nas bancas), enganando os empresários de que é assim que a merda tem que ser feita, falando mal de jornalista (como são fora de moda!), enquanto sorriem com seus paninhos de seda envolvendo sorrisinhos cúmplices. Como estão com a mão no cofre, pois detém a parte importante do faturamento, sapateiam com seu poder em cima dos outros, enquanto as redações ficam à deriva, sem o mínimo para conseguir as mudanças verdadeiras (mais jornalismo, pois jornalismo é o produto e não o velho reclame embrulhado em forma de falsa reportagem). Fazer tabula rasa de experiências que estão dando certo, apesar das dificuldades, acenar com altos faturamentos, desmoralizar o trabalho alheio é com os falsos marqueteiros. Gente sem importância que ganhou status com a atual ditadura que destruiu o jornalismo.

PRECONCEITOS - O que um departamento comercial tem que fazer? Escutar a redação, entender o que está sendo feito, apostar no trabalho desenvolvido, e jamais tentar vender reportagens ou estimular a confecção de reportagens comerciais. Às vezes coincide: uma matéria de interesse comercial é uma boa pauta, mas isso não pode ser encarado como regra. Muita coisa de interesse da empresa ou da instituição que cacifa o veículo poder ser trabalhado a favor do jornalismo, mas esse é um fio de espada que precisa ser trilhado com temor. O certo é desvincular totalmente o jornalismo da publicidade e deixar os marqueteiros se virarem com o que têm à mão. O que não pode é o departamento comercial sair espalhando que o veículo não presta e que será mudado imediatamente para atender os preconceitos de quem quer que seja.

FORA! - Cansei dessa gente. Desses tiradores de pedido com ganas de ser o que não são. Estão por toda a parte. Perseguem o jornalismo como cães farejadores. Possuem toda a argumentação pseudo-correta do mundo. E são mentirosos. Acham que te enganam. Fúúú, fora!!

RETORNO - Imagem de hoje: Calçadas da Sete de Abril, de Marcelo Min, que avisa: depois de um ano de quebra-quebra, as novas calçadas ficaram prontas, mas há perigo de inundação em dia de chuva, pois as canaletas estão entupidas. Isso é jornalismo. Não por acaso, está confinado no genial Fotogarrafa, já que ainda há liberdade de expressão na Internet. Por quanto tempo? Até o momento em que os engraçadinhos do falso marketing venham falar em operação casada, entre outras barbaridades.

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