3 de abril de 2007

DESCONTROLE NO AR



As vivandeiras de quartel estão inquietas. Viram no episódio da punição, não consumada, aos sargentos envolvidos na greve dos controladores de vôo, uma brecha para indispor Lula com as Forças Armadas. Mas não é só Lula que está de costas para as Forças Armadas, é o regime que ele representa, e divide com a direita, o da ditadura civil que nos desgoverna. Jogar a farda no limbo não foi apenas um erro da falsa democratização, foi sua carta de apresentação. Instaurou-se a idéia de que era preciso afastar os militares, quando o certo era derrubar a ditadura. Esta, livrou-se dos militares, que serviram de estuário para todos os erros desde 64. Os velhos caciques de sempre, agora com o voto de cabresto, continuaram mandando e fabricando seus epígonos, sua farta descendência. O erro, portanto, é institucional, não pontual. Lula apenas trabalhou uma emergência.

Não havia muito o que fazer. A punição acarretaria mais estrago. O problema é que a crise mostra que o sol está alto demais. Perdeu-se a oportunidade de eliminar a histórica oposição dos militares aos governos civis. Ao contrário, o fosso foi aprofundado, com lances trágicos. Enviar tropas para o Haiti, onde servimos de polícia para os desmandos imperiais, é apenas um deles. Sucatear os equipamentos, como denunciou recentemente o ministro da Marinha, foi outro. Dispensar a meninada do serviço obrigatório por falta de dinheiro para o rancho nem se fala. Deixar que parte dos arsenais militares sirva de insumo para a o exercício da bandidagem, como já foi denunciado várias vezes, é mais um ponto desfavorável.

O mais grave foi tentar retirar os militares do imaginário nacional. Como faltou coragem de punir os torturadores (muitos deles no serviço civil) armou-se o circo contra as Forças Armadas, como se um país deste tamanho e com tanta gente dentro possa prescindir de um escudo para a cobiça internacional, que deita e rola, tanto, que até vizinhos medíocres como Venezuela e Bolívia resolveram colocar as manguinhas de fora. Como se fôssemos o circo do mundo, com macaco, palhaço e mulher pelada.

Não se trata de restaurar a patriotada, que faz tanto mal quanto o desprezo à nação. A patriotada é álibi da direita para denunciar o entreguismo, tão explícito em governos ditos de esquerda. São os mitos antigos de caserna, exacerbados, colocados à força na vida comunitária, como aconteceu depois do golpe de 64. O que vale é o patriotismo, que é outra coisa. Numa família, só você pode falar de seus parentes. Ninguém tem o direito de falar mal de sua casa. Assim num país: não me venham os de fora falar mal do Brasil, só nós poderemos lavar a roupa suja entre nós. Pois perdemos essa capacidade de ter o patriotismo (sentimento de pertencer a uma grande nação) dentro de nós. O que sobrou foram sinais exteriores, que sempre se desmoralizam, basta qualquer contratempo.

O patriotismo é reconhecer a grandeza do país instalada na nossa emoção e conhecimento. É ter noção das nossas fragilidades e visão clara de nossas forças. Não podemos nos entregar como bananas achando que tudo foi por água abaixo. Acabamos deixando assim caminho para as vivandeiras. Estas, bem fornidas pela mídia, começam a fazer água no porão, loucos para verem sangue. Mas os militares estão profundamente marcados pela injustiça que sofreram, pois os civis colocaram nas suas costas a responsabilidade de tantos crimes, quando sabemos que a ditadura desencadeada em 1964 começou na área civil e se sustentou na área civil em atividades fundamentais, como a política econômica.

O pior é que a situação não muda e mais crises poderão vir. Solução? Prestem atenção no prestígio dos nossos militares, conforme dizem as pesquisas. Eliminem os ressentimentos que esta longa ditadura gerou. Dêem voz de destaque para as reivindicações militares. Respeitem a farda e não façam besteira, deixando que uma situação como a dos controladores de vôo vire uma bagunça, só porque não quiseram resolver, empurrando com a pança o que deveria ser solucionado no primeiro instante.

Farda inquieta significa sofrimento à vista. Chega de ditadura, de qualquer porte e com qualquer vestimenta. De terno ou de botões dourados.

RETORNO - 1. Imagem de hoje: o presidente Getúlio Vargas recebe os pracinhas vitoriosos da Força Expedicionária Brasileira. 2. Getúlio foi escolhido o "Maior Brasileiro de Todos os Tempos", segundo eleição promovida pela Folha. Votaram 200 intelectuais, políticos, artistas, religiosos, empresários, publicitários, jornalistas, esportistas e militares considerados referências em suas áreas de atuação. Na sua coluna na Folha, Carlos Heitor Cony diz que foi criado no ódio a Getúlio. Foi pesquisar o que ele considerava um anão e encontrou um gigante. Depois dizem que eu sou tendencioso, saudosista amrgurado e não sei mais o quê.

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