21 de fevereiro de 2008

OS ARROGANTES LAMBEM O OSSO


Já que pegaram pesado, vamos devolver na mesma moeda. Talvez nunca tenha havido um tapa tão forte e violento como a vitória do cinema brasileiro em Berlim. As reações rasteiras diante da antológica premiação foi a prova de que odiamos quem nos enxerga de frente, que nos propõe maturidade do olhar, que nos obriga a ver o grande buraco onde nos metemos. E esse buraco não é a miséria, a violência, o esgarçamento do tecido social, a guerra civil por toda parte. O mais grave é a ilusão de que somos essas grandes figuras que projetamos, essa auto-imagem de produtores de pensamento, essa pose que costuma costurar os medíocres.

Pois é nessa ilusão que o grande filme de José Padilha acerta em cheio, fazendo o maior estrago. Não se trata de achincalhar Foucault, mas de denunciar o uso de Foucault para a conivência e a covardia. Não se trata de incensar a tortura, mas ver na tortura o instrumento do convívio sinistro da ex-cidadania. Não se trata de heroísmo, mas de medo. De repressão, de ditadura, de horror. E da ação gerada pelo pipocar das balas achadas e perdidas.

Grandes personalidades do cinema se manifestaram a favor do filme Tropa de Elite. Gente da pesada, criadores de grandes obras. É o contraponto a quem se acha jovem e revolucionário acusando o grande vencedor do Urso de Ouro de Berlim, e seus admiradores, de fascistas.

Daqui a 40 anos, a gente vai assistir ao filme. Já a "Variety" [revista norte-americana que fez uma das mais ácidas críticas a "Tropa de Elite'] já está hoje forrando o chão de algum pintor que está derrubando tinta em cima dela. Não dura dois dias." Fernando Meirelles.

“O cinema nacional mobilizou a sociedade para uma discussão muito oportuna sobre segurança pública. É espetacular um filme ter esse poder de mobilização”. Sergio Rezende.

"É um filme muito forte, muito importante. Ajuda-nos a compreender a sociedade brasileira, e não apenas esta. Corrupção e violência são pragas que avançam em todo mundo. Com as especificidades de cada lugar." Costa-Gravas.

"Estou contentíssimo. É uma vitória do Padilha, da equipe dele, e também do cinema nacional. 'Tropa' é um filme polêmico, mas de grande qualidade". Cacá Diegues.

ESCUTEM O CARA

“Eu queria explicar como o estado corrompe os policiais e os incita à violência. Creio que uma grande maioria de brasileiros compreende o fundo do filme. O que vemos acontece de verdade no Brasil. É triste, mas é um fato.” José Padilha.

RETORNO - Ah, teve o Babenco dizendo que o filme (visto por 12 milhões de pessoas), "não pára em pé". Babenco foi jurado na comissão que eliminou Padilha do Oscar e escolheu o filme de Cao Hamburger, que nem foi selecionado. Decidiu sentado, naturalmente.

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