27 de março de 2008

O QUE É DESIGN?


Design é a capacidade de cobrar mais caro por artigos desvirtuados de suas utilidades. Bancos impossíveis de sentar, xícaras quadradas, alças escorregadias: são inúmeros os exemplos da tralha criada em prancheta e que acaba se transformando, pelo artesanato ou na fábrica, em coisas só para serem olhadas. Enfeitam a sala. São como vasos etruscos. Não vá querer colocar flores neles.

O álibi para convencer os trouxas, de que aquilo é como a roupa invisível do rei, é que não existe nenhum fedelho para denunciar que o imbecil está nu. Todos se calam diante da grande arte. Você sai com as costas doendo, quase derruba a louça por não ter onde segurar, desiste de sorver qualquer coisa nos bocais que funcionam apenas na hora da foto, mas não dá o braço a torcer. Diz que tudo é um primor e, se seu sobrenome terminar em i ou one, diga algumas frases com sotaque italiano.

Pois os italianos são uns espertalhões. Lembram do golpe da Benneton? Juntaram milhares de fabriquetas fajutas, padronizaram o design, mergulharam as roupas em cores dignas de uma lavanderia chinesa e disseminaram uma caríssima publicidade tomada pelo avesso: gente moribunda, entre outros expedientes. Todas as cores da Benneton. Era disáin! A roupa não durava, desbotava, ficava logo em frangalhos. Era fácil de piratear. Mas vai falar mal.

O design bebe na fonte da performance artística, a vanguarda pela vanguarda, em que vassouras possuem cabos de foice. Serve para ganhar prêmios, enriquecer os desenhistas e ludibriar a população. Fui comprar um banquinho de madeira e me assustei com o preço de uma droga colocada bem no meio do show-room. Mas por que custa tanto? Ah, esse tem disáin! disse, orgulhosa, a atendente.

O engodo precisa de entorno. O que se destaca no apoio é a palavra conceito. Você pode fazer a maior porcaria, preparar uma tremenda armadilha para ganhar uns trocos, mas para isso é necessário que você use a palavra conceito. Qual o conceito da comida vendida em lanchonetes e restaurantes hoje? Nada da generosidade do velho bauru, ou daquele beirute inesquecível, ou mesmo o clássico xiz-salada. O conceito é colocar uns glégous e chamar aquilo de frango, por exemplo. Quer de frango? Aí te servem glégous, uma pasta horrenda, muitas vezes dura. A indústria alimentícia está cheia de conceitos. Implantam até cheiro de picanha e te servem soja. É o conceito.

Funciona da mesma forma no disáin. O conceito não é sentar, entende, é desarmar os gestos e recriar a postura corporal para que as pessoas cumpram sua missão de fazer pose, enquanto consomem a cafeteira para pó de cinco mil dólares o quilo, a faquinha para cortar alho poró indonésio, o pretinho básico que custa uma fortuna. Conceitos como o canivete suíço são xangai, cafonas, coisas de pobre. É preciso criar formas em produtos para quem não precisa de nada, os privilegiados da má distribuição de renda, que se vestem e comem brisa, porque estão até o pescoço com a bufunfa predada das nações.

Você pega um cartão de crédito, por exemplo, e compra design. E sai sacolejando o esqueleto usando óculos de disáin, sorrindo como uma bestalhona por aí, enquanto as câmaras te filmam. És a estrela do disáin. Tem gente que paga para ver.

RETORNO - Imagem de hoje: um banco com formas orgânicas projetado por Brodie Neill feito de fibra de vidro envernizada. Fonte: http://mocoloco.com/

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