11 de maio de 2008

AS DESRAZÕES DA PUBLICIDADE


Campanha milionária está defendendo o direito das concessões públicas de TV serem loteadas pelos monopólios de cerveja. Distorcem tudo, claro. Dizem que a lei do Congresso a ser votada quer cercear a liberdade de expressão, pois é a publicidade que, quá quá quá, garante a sobrevivência dos veículos, e não a cidadania tungada em todos os seus direitos. É um falso argumento. Podem anunciar, mas não tomar conta de todo o espaço, nos encher o saco com zilhões de minutos caríssimos mostrando mulher pelada e saradões imbecis celebrando o fato de serem idiotas e mamando em latinhas coloridas.

Como não fazem concessões, então é melhor proibir mesmo. Pior é que querem impedir apenas até as 21 horas, o resto do tempo estaria livre. Pois não querem. Precisam mostrar o quanto devemos nos encher de mijo pôdre, pois é disso que se trata. Já existe uma reação, na indústria, contra a padronização das cervejas fabricadas às toneladas. Cervejarias artesanais brotam por todo o canto, especialmente aqui perto, no Vale do Itajaí. Para onde vai a produção? Para o Exterior, claro, ou para alguns nichos finos nacionais. Mas, mesmo nas marcas de massa existe alguma coisa boa. E também depende do local. Na Família Mancini tomei um chopp de marca notória excelente. O resto, de bom, vem de fora. Falam maravilhas de marcas alemãs e até canadenses.

Cerveja não é ruim, o péssimo é essa imensa quantidade de reclames. Dá dó ver como o Zeca Pagodinho, tão fininho que era, inchou com a cervejada toda (sim, sei, ninguém tem nada com isso), colocando seu talento a serviço do comércio puro e simples. O pior é quando colocam as baixarias machistas, como boazuda e gostosa, como foco principal das campanhas. Tem que impedir essa brutalidade toda. Quando lançam nova marca, então, nos entopem de publicidade.

A overdose do dia das Mães chega ao fim. É insuportável. Agora fazem teatrinhos comportamentais com filhinhas moderninhas e mães sempre enxutas. A barra corporal que é a maternidade não cabe nos filmecos que vendem tudo que é tipo de joça. O pior é a grande campanha contra a paternidade que existe atualmente. Vejam os filmecos sobre cópias piratas. É sempre um pai estúpido que alegremente presenteia os filhos com filmes piratas, ou que é chuchado pela bandidagem. É moda desmoralizar pai, inclusive quando os mostram “grávidos” ou em comerciais de margarina (agora em menor volume). Pai babaca pode, pai mesmo, picas.

É preciso destruir a família, e mostrar o sucateamento familiar como coisa boa e normal. Na “nova” família mostrada no Globo Repórter, não teve espaço para a familiar nuclear tradicional. Pais gays pode, papai e mamãe com filho biológico, não. É uma fofura sem fim. Claro que tudo cabe no universo familiar, inclusive a família mosaico, feita de filhos de vários casamentos. O que não polde é erradicar o tradicional, como se fosse um pecado. A exclusão do que é clássico em favor do que é emergente tem tudo a ver com a destruição de comunidades, sociedades, nações.

Hoje se invade país com um desplante sem fim. Retomaram o Líbano para a guerra. No Iraque, todo dia tem uns trinta mortes em diversas batalhas. O Haiti está sob protetorado americano, com brasileiros ajudando no serviço. Tortura em Guantanamo, a prisão americana instalada em Cuba. No Brasil, criamos agora os guetos étnicos, como a tal Reserva da Raposa. Daqui a pouco vão promover quilombo como nação à parte. O objetivo é retaliar o país, separá-lo em postas, pois no fundo gostas.

O Brasil é uma excrescência na atual maré alta do hipercapitalismo global. Onde já se viu tanta riqueza, tanto território, nas mãos de um bando de panacas que não sabem se defender? Cerveja no final da tarde para os brasileiros escravos do consumo e ermos de soberania. Bastante mijo pôdre. Dá-lhe.

RETORNO - 1. Imagem de hoje: rótulo de antiga marca de cerveja catarinense. As cidades eram servidas por produção local, limpa, honesta. Em Uruguaiana tinha a P.O. Mas aí vieram os grupaços poderosíssimos e transformaram tudo num xarope intragável. As exceções são as sobreviventes, que foram compradas (muitas se estragaram nessa migração) e as emergentes, surgidas a partir da exaustão diante das porcarias que dominam o mercado.

2. Clovis Rossi comenta na Folha deste domingo "O pacto Lula/Bush", que comentei dias atrás. Ele destaca "o silêncio denso em todos os quadrantes político-ideológicos" sobre o assunto" e escreve: "Fica claro que é uma fraude o discurso anti-elite que Lula ainda adota (...) Ninguém é mais elite do que a elite das potências. E ela adora Lula". Acrescento: Lula sempre foi um empregado das multinacionais. Sua insurgência é excludente: vigorava apenas para os privilégios da classe média ao qual pertencia, na época em que ganhava salário nas montadoras. Negociava com seus patrões, enquanto, aproveitando a carona da época, posava de anti-ditadura. Ajudou a limpar o terreno para que o coronelato civil antigo e emergente (do qual se tornou um dos seu próceres) assumisse todo o poder. No fundo, não há contradição, mas coerência. Pedir licença para governar, mantendo intacta a política econômica do vendilhão FHC, foi apenas o resultado natural de uma vida dedicada à traição política. Para isso Leonel Brizola e o trabalhismo histórico, que serviu de repasto para o traidor, foram usados. Hoje dá dó ver o partido fundado por Brizola se enredar nesse tal Paulinho, mais um para-quedista da trágica política de alianças adotada pelo PDT. Enquanto o trabalhismo não se concentrar nos seus próprios quadros, não sairá do atoleiro.

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