20 de junho de 2008

JOHNNY NÃO É FILME


Estava curioso em relação a “Meu nome não é Johnny”, de Mauro Lima. Fizeram grande estardalhaço sobre o filme, colocando-o como contraponto de “Tropa de Elite”. Quanta baboseira. Johnny é um filme medíocre, cheio de clipezinhos, com diálogos de teatro amador, de obviedades sem fim. Garoto classe média tolerado em suas traquinagens pesadas na infância, que tem a família destroçada por uma separação dos pais, se envolve com drogas e vai parar na cadeia. O tema não interessa, o que vale é o cinema. E como linguagem cinematográfica é um desastre.

A preocupação em reproduzir os anos 80, nas roupas, comportamento e gírias, é patético. Época não se reproduz, sumiu para sempre no buraco negro. O que existe é a disposição dos elementos do cenário e do figurino em função de uma narrativa. E nisso Johhny é um fracasso. O lugar comum, o clichê impera. Por que não tiram o cigarro da boca? Para reproduzir a época e a tribo drogada. Essa história de abordar de maneira fake o vício do cigarro está enchendo o saco. Vi filme americano em que os caras sugam o cigarro sem parar para mostrar que era assim na época. Ora, uma tragada bastaria, não precisa obrigar os atores a chupar indefinidamente a cigarreira e soltar fumaças cools na cara dos espectadores.

A reiteração do óbvio tem momentos lancinantes, como a cena em que Johnny cheira no térreo enquanto o papai morre tossindo no primeiro andar. Que coisa sem sentido. E ficam horas nisso, com um desenlace ridículo, de um filho inconsolável sendo consolado pelos parceiros do cheiro e do fumo. Droga, em si, é uma porcaria. O drogado só pensa em se drogar. Não quer outra vida. Finge prestar atenção nos outros, mas o foco está lá, no pó ou no fumo, ou na birita (ainda se diz birita?).

Tropa de Elite é cinema, Jonnhy não. Não interessa quem tem razão em relação à classe média e sua relação com as drogas. Importa o que é cinema, produção audiovisual competente, forte, original, de vanguarda. Johnny parece novela das sete. Tem até a Cléo Pires. Selton Mello, que nos deu um ótimo “O Cheiro do Ralo”, agora escoa à toa pelo filme afora, olhando significativamente pela janela do carro da polícia, enquanto a cara dele quando menino também olha pela janela do carro da família. Ó, quanta criatividade.

O irritante é ver tanta polêmica à toa. Não se discute cinema, se debate idéias fixas, papos modinha, pautas jornalísticas. Tenham dó. É preciso prestar atenção no básico. E cinema é o que está na tela, só. O resto – classe média, drogas, samba ou rocknroll, é besteira. Você pode fazer um filme genial sobre coisa nenhuma, não obrigatoriamente contar uma história ou entreter. “Oito e meio”, de Fellini, é um filme sobre o nada, o vazio, o impasse criativo. Um filme que dá voltas sobre si mesmo e tenta se encontrar. É absolutamente genial. A série Seinfeld, dos anos 90, é sobre coisa nenhuma, ou seja, sobre pessoas conversando o tempo todo e se entregando enquanto interagem. Não há nada melhor.

Agora, discutir a situação social da classe média enquanto fumeta, vista de um ângulo sociopata econômico da marginalidade produzida, é o caralho. Parem com isso. Johnny é um filme ruim. Tropa de Elite é um filme ótimo. Simples.

RETORNO - Imagem de hoje: Selton Mello sendo preso em Johnny.

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