28 de julho de 2008

MINHAS TARDES DE AUTÓGRAFOS


Sempre existe um limite a ser rompido nas tardes de autógrafos. Como uma das mais completas formas de solidão, a convivência do escritor com seus livros expostos para platéias vazias é uma experiência única, que mereceria não apenas registro mais assíduo, mas estudos aprofundados. Neste domingo, por exemplo, aproveitei a sessão de autógrafos para me informar sobre o que acontece aqui no bairro de Ingleses, lendo dois jornais locais, de periodicidade mensal. Fiquei sabendo de vários eventos que aconteceram por aqui, todos eles com quorum mínimo, mas isso faz parte do trabalho dos pioneiros.

Imaginei que meu melhor auge, como diria aquele maratonista, tinha sido um lançamento que fiz no shopping de São José, município vizinho aqui de Florianópolis, em que permaneci ao lado de uma mesa e algumas poltronas na curva de uma escada durante duas horas, sem que ninguém atentasse que eu estava ali. Mas sempre consigo me superar. Uma sessão de autógrafos em que ninguém comparece é uma oportunidade maravilhosa para aprofundar amizades, como aconteceu quando meus amigos Marlon e Janaina me acompanharam por um fim de tarde e noite adentro no Shopping Beira Mar Norte, em que tive o privilégio de travar contato com apenas um leitor desconhecido, mas sincero.

Um dos eventos mais concorridos foi em São Paulo em 2001, quando ameacei minha vasta equipe de free-lances. Eles deveriam comparecer e comprar meu livro, já que eu era responsável pela distribuição de pautas de uma revista em poderosa corporação empresarial. Houve uma tremenda greve de metrô no dia, mas assim mesmo os pobres jornalistas cruzaram a cidade a pé e lá estava eu recebendo o abraço de mais de 50 pessoas. Houve uma sessão com mais repercussão, nos anos 70, quando eu cobria música para a Ilustrada e era copy do caderno. A Folha é gigantesca e muita gente foi na Livraria da Vila, então em início de carreira. Contei mais de cem pessoas, mas isso quando eu era uma celebridade.

As sessões mais gratificantes foram em Porto Alegre e Uruguaiana, em que reencontrei amigos e conterrâneos e conheci novos leitores. Mas aqui na ilha ninguém perde por esperar. Estarei sempre pronto a autografar, mesmo que a colheita seja mínima ainda, já que um escritor leva a vida inteira para convencer os outros de que é mesmo um escritor. Cheguei a levar minha obra completa que cobriu um canto da mesa onde deveria autografar. Foi bonito.

Tudo isso para dizer que confio na feira de livros do bairro, que continua até o dia 10 de agosto. Vou reproduzir aqui as novidades do acontecimento:

"Até dia 10/08/2008 acontece a II Feira de Inverno dos Ingleses, no centrinho da praia de Ingleses, em Florianópolis (SC). Música ao vivo, degustação de queijos e vinhos, distribuição de brindes, apresentação de capoeira, boi de mamão, lançamento de livros e conversa com os autores, são algumas das atrações da feira. Além dos ótimos descontos do comércio local.

A Livraria Mar e Letras preparou uma programação especial, centrada nas crianças. Nos dias 03 e 10 /08/08 - às 15 horas, estão todos convidados para assistir ao espetáculo literário-musical "Brincar de verdade”. O show é baseado no livro de mesmo nome, da escritora Marta D. Martins. A autora vai estar presente para contar sobre as brincadeiras de infância que fazem parte de nossa cultura e de nosso imaginário. No espetáculo, o texto poético das brincadeiras do livro é cantado e vivenciado com a platéia, seja ela criança ou adulto.

A Livraria Mar e Letras abriu um espaço infantil onde a meninada pode desenhar, pintar, ouvir histórias, trocar gibis/figurinhas e conhecer diversos livros infantis, como “Lili inventa o Mundo”, de Mário Quintana e outros autores consagrados."

RETORNO - Imagem de hoje: o chefe não lê jornal, o chefe se informa. (Foto de Ida Duclós).

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