17 de fevereiro de 2009

O VERDADEIRO TU


Nei Duclós (*)

Há uma feérica busca pelo “verdadeiro eu”. Milhões de exemplares são vendidos por autores que acenam com a solução para tão candente tormento. Pessoas mergulham em cursos de auto-ajuda e exercícios zen-aeróbicos para livrar-se da casca das convenções sociais e assumir a própria identidade, soterrada em toneladas de cascalhos de indiferença e repressão. O resultado é que existe cada vez mais cultura psicanalítica das massas, todo mundo voltado para si mesmo, trafegando em mão única nas estradas perigosas da convivência múltipla.

Sabemos que esse esforço é inútil. Buscar o verdadeiro eu é perda de tempo. A máscara sempre encontrara um jeito de sobreviver. O que somos permanece um mistério abaixo ou acima de camadas de disfarce. No máximo se consegue formatar um novo personagem, com a desvantagem de ser exatamente igual ao do vizinho. Vemos então multidões de clones em demonstrações de força, como acontece nos megashows em que todos levam a latinha de cerveja ao bico ou gritam iuhú. Eles aparentam ter encontrado o verdadeiro eles: uma espécie de criatura em conexão com espumas mal-cheirosas e baticuns surtados.

A tragédia real é que, perdidas nesse exercício insano, as pessoas acabam fazendo o oposto e vão em busca do verdadeiro tu. O que vem a ser isso? No lugar de ir à cata de algo dentro de si, inalcançável, fica bem mais cômodo pesquisar a vida alheia. Basta escolher os alvos entre os ensimesmados grupos de egos em depressão. Convencê-los de que estão no caminho errado, que devem despertar o tesouro soterrado em almas perdidas. O objetivo é cavocar nos outros o que ficou exaustivo em nós. Vemos isso nos catequistas que batem à sua porta para salvá-lo. O pessoal da cientologia, com Tom Cruise e John Travolta à frente, também são do ramo. Buscam tus de verdade por toda a parte. Assumiram um ar de pastor demente, enquanto continuam fazendo filmes em que encarnam assassinos charmosos.

É fácil entendê-los. Buscaram embaixo do próprio tapete e se decepcionaram. Quem não se decepcionaria, se a aparência física fatura uma boa nota? Melhor mesmo é cutucar o que existe lá fora: pessoas não ungidas pela celebridade, ansiosas e trouxas. É mais divertido e não dói.

RETORNO - 1. (*) Crônica publicada nesta terça-feira, dia 17 de fevereiro de 2009, no caderno Variedades, do Diário Catarinense. 2. O astro Tom Cruise, 44 anos, virou o "Jesus da Cientologia" em caricatura publicada no site Gallery of The Absurd. Ele aparece ao lado de Kirstie Alley, John Travolta, Will Smith, membros famosos da crença, e de sua mulher Kate Holmes, em reprodução da pintura A Santa Ceia, de Leonardo Da Vinci.

BATE O BUMBO

CITAÇÃO NO GLOBO.COM SOBRE AMAZÔNIA

Na matéria do portal G1, da seção Globo Amazônia, da globo.com, sobre desmatamento, o repórter Iberê Thenório, de São Paulo, cita uma opinião minha sobre o assunto que publiquei no Orkut. Veja o que diz a reportagem:

'Operação de guerra' coleta imagens de desmatamento na Amazônia - Aviões de reconhecimento da Aeronáutica mediram devastação. Em 450 horas de voo eles sobrevoaram área de dois Paraguais.

"Nas comunidades sobre a Amazônia na rede social Orkut, o uso das forças armadas para proteger a floresta é o assunto mais discutido pelos internautas. A maior parte das pessoas defende que o governo brasileiro deveria usar o Exército, a Marinha e a Aeronáutica a serviço da preservação ambiental."

“As Forças Armadas ajudariam muito a frear o desmatamento na Amazônia, até porque eles já fazem treinamentos lá”, defende o internauta Renato Monteiro em debate no Orkut. Já para Nei Duclós, somente usar o poderio militar não ajudaria o meio ambiente: “Forças Armadas não podem ser o foco da defesa. O que nos defenderia na Amazônia seriam políticas públicas focadas na população que existe marginalizada lá.”

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