5 de março de 2009

M, DE FRITZ LANG: A JUSTIÇA DOS CRIMINOSOS


Quatro facínoras que jogaram um casal o penhasco, no Rio, foram justiçados por traficantes, que não perdoaram o crime e entregaram os meliantes à polícia. É puro Fritz Lang, no seu clássico M (no Brasil, o péssimo título de O Vampiro de Dusseldorf, quando não tem vampiro nenhum). A máfia acha que o sequestrador de crianças está atrapalhando os negócios e monta um esquema para prender o suspeito. Depois que consegue, faz um julgamento numa fábrica abandonada, numa cena impressionante mais tarde aproveitada por Orson Welles no seu filme O processo.

No Brasil, temos a segunda presidência Sarney. O pedetista que ganhou as eleições no estado dele, o Maranhão, foi finalmente defenestrado do cargo, depois de intensa campanha promovida pela mídia regional, totalmente nas mãos da família Sarney. Quem foi o candidato que perdeu o pleito e agora poderá assumir? Isso mesmo, Roseana Sarney. Fez-se justiça. É assim que funciona. E no Senado, presidida pelo fundador da ditadura civil, que na época do governo Collor era líder do governo, a cobiçada comissão de infra-estrutura elegeu seu presidente. Exatamente. Fernando Collor de Mello. Uma coisa é certa: os caras não desistem e acabam vencendo pelo cansaço.

Aqui, tudo o que for criado para economizar e beneficiar o povo não presta, é jogado fora. Paulo Vianna da Silva me manda e-mail contando a incrível história do trenzinho movido a ar. Cita Sergio da Costa Ramos, veterano cronista catarinense: “Empresários da Malásia acabam de oferecer ao Governo do Estado (Santa Catarina) a tecnologia do "Aeromóvel", aplicável ao metrô de superfície. A tecnologia empregada na Malásia é 100% nacional, desenvolvida pela empresa gaúcha Coester - e implantada para testes, pioneiramente, em Porto Alegre. A Scomi, empresa que já implantou o sistema em Kuala Lumpur, Malásia, e em Mombai, na Índia, participará da licitação a ser lançada pela SC Parcerias."

Aí Paulo comenta: “Oskar Coester é um engenheiro gaúcho que desenvolveu um trem de superfície de propulsão pneumática em 1977. Teve todo apoio da EBTU e Ministério dos Transportes, mas no meio da implantação da primeira linha-teste, em Porto Alegre, uma mudança de dirigentes no Ministério dos Transportes em 1982 fez cessar, subitamente, todo o financiamento - deixando o Coester com as calças na mão (taliqual o Barão de Mauá, o Tião Maia e o Olacir de Moraes). Porquê teria sido?”

“A linha piloto ainda está lá, em Porto Alegre, com os mesmos 850 metros de vinte e oito anos atrás. Um protótipo foi levado à Feira de Hannover, em 1980, e em nove dias transportou 18.000 pessoas com total eficiência e segurança. Em 1986 o governo resolveu dar continuidade à proposta, mas nada foi adiante. Em 1987 ele cedeu o direito de uso da tecnologia ao grupo indonésio P.T. Citra Patenindo Nusa Pratama. Com o suporte de engenheiros brasileiros, os indonésios completaram o sistema em oito meses(!). O sistema consiste de três veículos, compostos de dois carros articulados cada, com capacidade para 300 passageiros, seis estações de passageiros e cinco grupos moto-propulsores. A linha foi inaugurada com sucesso pelo então Presidente da Indonésia, General Soeharto, em 1989.”

“Em 1994, para obter recursos para saldar a dívida com a FINEP, o direito de uso parcial das patentes nos Estados Unidos foi negociado com o grande grupo saudita Xenel, que trouxe recursos para o projeto. É isso aí: desenvolvemos uma tecnologia nova, e o governo não dá apoio. Cedemo-la a um país estrangeiro, e lá o governo apóia, e depois vem vender de novo para nós. Querem apostar como vamos comprar?”

Digo eu: claro, agora sim dá para comprar, dá para gastar os tubos. Agora tudo se justifica. Além do mais, os estrangeiros aprovaram. Nós criamos e os outros levam tudo. Foi assim com o avião, a máquina de escrever, a radiofusão, o Bina e por aí vai. Inventaste isto? Grande coisa! Toma, toma e toma!

Afora tudo isso, M é um clássico absoluto. Uma perfeição. Lang inventou um monte de coisas. A sombra do filme noir. O enquadramento, de cima, da escada em caracol, enquanto soa um chamado lancinante ou um silêncio absoluto desce sobre tudo. O sutil movimento de objetos sugerindo o que aconteceu de sinistro e não aparece na tela. As multidões reunidas em porão de olhar pesado em cima dos acusados. A investigação científica elevada ao status de narrativa cinematográfica. O detalhe preciso sustentando colunas mestras da obra. Entre muitas outras coisas.

RETORNO - 1.Por favor, se forem reproduzir o post acima, prestem atenção nas aspas. Não coloquem tudo na minha boca. Tem mais dois falando: Sergio e Paulo. Não custa nada atribuir corretamente o crédito das falas. 2. Imagem desta edição: Peter Lorre, o assassino, é marcado pela máfia em M, de Fritz Lang.

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