27 de março de 2009

URUGUAI É “DONO” DO RIO DA FRONTEIRA


Nei Duclós

A patrulha da marinha uruguaia que deu 50 tiros em Vilmar Rosa Duarte era formada por quatro elementos. O tiroteio foi à noite e quase acabou com a vida de Vilmar, aposentado de 60 anos e morador de Uruguaiana. Ele e um amigo estavam acampados na margem brasileira do rio Quaraí, fronteira entre os dois países, com apenas 60 metros de largura e foram perseguidos a tiros ao longo do rio, onde, segundo dizem, os uruguaios dominam. A mentalidade que reina no país vizinho é a seguinte: "Aqui, o Brasil não tem rio". Os uruguaios tomaram conta daquela parte da fronteira e por isso ainda não devolveram o barco de estimação do nosso cidadão baleado, que, segundo sua nora Juliane Ribas Cruz, tem um valor sentimental muito grande, tanto é que o nome da embarcação, de alumínio, o NOPATI III, é formado pelas iniciais dos seu 3 filhos, Noruã, Paulo e Tita.

Vilmar não pôde ir pessoalmente recuperar o barco, pois ainda se recupera em casa depois de passar por grave cirurgia a cargo do Dr. Augusto Conto, que chegou a temer pela vida do paciente. Vilmar está fora de perigo, mas ainda sangra. Conversei com ele pelo telefone, nesta sexta-feira à tarde. Agradeceu o apoio da Marinha brasileira, que fez a ocorrência, foi ao local, constatou o tiroteio e comprovou que Vilmar e seu amigo não estavam armados. Foi nesse telefonema que entendi direito o que realmente se passou por lá.

O Pai Passo, onde eles estava acampados, pescando por esporte, é uma região de muita plantação de arroz, cheia, portanto, de mosquitos. À noitinha, os bichos atacam em nuvens poderosas, mas isso não afasta Vilmar daquela vida a que está acostumado desde criança. Disse que ainda se pesca muito peixe bom por lá, mas que atualmente não se pode capturar mais dourados e surubis, ameaçados de extinção. Quando caiu a noite, em meio à mosquitama, passou uma patrulha uruguaia. Lá é um lugar muito concorrido, sempre tem barco passando.

Naquele mesmo dia, segundo a reportagem que gerou meu post anterior, publicada no Diário da Fronteira, escrita pelo repórter César Fante, Vilmar e seu amigo tinham recebido uma família uruguaia que por lá passava. Ofereceram lanche e refrigerante. Ou seja, a convivência com los hermanos é pacífica, tranqüila. Por isso, quando o barco da patrulha que acabara de passar fez um barulho estranho, Vilmar e seu amigo foram ver se os uruguaios precisavam de ajuda.

Colocaram o Nopati III na água e navegaram uns 400 metros até chegarem perto dos marinheiros. Vejam bem: os dois pescadores estavam desarmados, acampados na margem brasileira e foram prestar solidariedade a quem, aparentemente, precisava de ajuda. Vilmar desligou o motor para melhor entender a situação, pois enquanto perguntava se o auxílio era necessário, não obtinha resposta clara. Vilmar então ligou novamente o motor e foi aí que os gansos se alarmaram. “Vamos atirar!” gritaram. Até o motorzinho do Nopati III tomar impulso, os homens já estavam quase no cangote, tiroteando sem parar até o acampamento.

O lugar onde tinham se instalado era num barranco e foi no momento em que Vilmar subia por ele é que foi atingido por dois tiros. Fugiu, pensou que ia morrer, chegou a parar por duas vezes no caminho, mas disse: “Não posso entregar os pontos”. E insistiu, alcançou o carro e o amigo conseguiu dirigir até Uruguaiana, onde Vilmar foi atendido e operado. “Este fato chocou muitas pessoas, principalmente amigos e pessoas que conhecem meu sogro”, diz a nora Juliane. "Ele sempre foi uma pessoa muito íntegra, aposentado como motorista, dono de uma chácara perto do famoso Bolicho de Tábua. A maior paixão da vida dele é a pescaria”

Juliane expressa a revolta da família: “ Nos dói muito em saber o quanto ele sofreu pra poder escapar daqueles uruguaios. Foi horrível os momentos de terror que ele viveu e a família também na espera de saber se ele iria resistir aos ferimentos. Logo após o termino da cirurgia o Dr. Augusto Conte nos deu a notícia que o caso era muito grave e ele tinha riscos de morte. Mas Deus é grande e todos nós temos muita fé, e sabemos que somente Deus para fazer o milagre do meu sogro conseguir escapar dessa."

Pois então, como é que fica? A marinha uruguaia deu uma saraivada de tiros em dois cidadãos brasileiros desarmados, confiscou o barco ancorado na costa brasileira, e o mantém, junto com o motor. Eles não querem devolver. Não temos fronteira? Não temos mais país? Atiram num cidadão pelas costas que queria ajudar, levam para o país deles o patrimônio de um brasileiro, não devolvem e tudo fica por isso mesmo?

Eis o crime de falta de soberania. Como não temos presença, eles se adonam. As autoridades devem ir lá resgatar o barco e o motor, devolver para Vilmar e exigir que peçam desculpas. É preciso exigir:

"DEVOLVAM O NOPATI III !!!"

RETORNO - 1. Imagem desta edição: Vilmar e o Nopati III, foto cedida por Juliane Ribas Cruz. 2. As declarações de Juliane me foram passadas por e-mail, que começa assim: “Bom dia Sr. Nei Duclós !!! Sou nora do sr. Vilmar Duarte, e ficamos muitos agradecidos ao sr. pelo artigo que escreveu em defesa do meu sogro. ” É por isso que Gabriel Garcia Marquez dizia: esta é a melhor profissão do mundo! 3. Quem colocou no Diário da Fronteira a edição "50 tiros em Vilmar Rosa Duarte" foi Miguel Ramos, o ator maior. 4. A atual versão da reportagem acima foi publicada às 21h50 do dia 27/03/09. Havia muito trecho confuso, erros de digitação. 5. Ficou boa a matéria, Geraldo Hasse? Agora tem até a foto do barco, como pediste, e do próprio Vilmar. Será que dá capa?

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