29 de abril de 2009

JORNALISMO


Nei Duclós (*)

Lembro o espanto que causei entre familiares e amigos quando disse que tinha optado pelo curso de Jornalismo. Na época, era só isso mesmo, nem tinha atingido o status de faculdade, muito menos ficava sob o guarda-chuva conceitual da comunicação, o que só ocorreu depois. E nem foi tanto tempo assim: só uns 40 anos atrás. Comparado com a milenar medicina, ou mesmo com a publicidade da era industrial, batucar nas pretinhas, como se dizia no tempo da máquina de escrever, era uma novidade espantosa, mesmo com a tradição da imprensa do Brasil, que vinha desde o século 19. O que não estava em voga era chegar à idade universitária e abrir mão de algo mais proveitoso, como advocacia.

Podemos então dizer que essa foi a última profissão, entre as tradicionais, a se consolidar. Hoje, ela é a primeira que ameaça ir para o espaço. A tecnologia da aldeia global, ideia que o scholar americano Marshall McLuhan disseminou como profecia bem sucedida, transforma cada cidadão em mídia. Onde fica o jornalismo, aquela atividade que corre atrás da notícia e a transforma em linguagem? Qual o espaço a ser ocupado pelo profissional que se dedica a reportar, escrever e difundir a confluência de inúmeros fatos? Qual o futuro da educação superior especializada que define quem pode ou não se dedicar ao ofício (pelo menos enquanto não se legisla de maneira definitiva sobre a obrigatoriedade do diploma)?.

Há ranger de dentes no ar, como se tivéssemos chegado ao fim do mundo. As revoluções, já está provado, jamais soterram nada. Antes, inauguram novas modalidades de convívio. Foi assim quando a fotografia ameaçou a pintura e o cinema assustou o teatro – depois ocorreu a mesma coisa com ele quando veio a televisão. A Internet não mata o jornalismo, nem sequer o jornalismo impresso. Minha neta rabisca no computador e folheia o livro de poesia infantil com o mesmo gosto.

O que muda radicalmente é a ilusão de que o jornalismo se presta a superficialidades ou deva se submeter a pressões. O entretenimento ou a distorção dos fatos fazem parte de outros departamentos, como o show-business e a política. O que vale é insistir na essência da profissão, que é a liberdade de estilo e a ética no relacionamento com as fontes e os leitores

RETORNO - 1. (*) Crônica publicada no dia 28 de abril de 2009 no caderno Variedades, do Diário Catarinense. 2. Imagem desta edição: foto de Ida Duclós de um exemplar do meu livro de contos e crônicas O Refúgio do Príncipe - Histórias Sopradas Pelo Vento, que hoje faz parte do projeto Bookcrossing, o livro itinerante. A viagem do exemplar (que passa de mão em mão) pode ser monitorada. 3. A performance de vendas de "O Refúgio..." vai de vento em popa. Várias encomendas pela internet e bela receptividade quando é oferecido ao vivo pelo próprio autor. As pessoas ficam sensibilizadas com o fato de a paisagem ao redor estar em forma de literatura, impreessa num livro.

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