14 de abril de 2009

MARINHA URUGUAIA ATIRA E SE GARANTE



O Uruguai, todos me dizem , é civilizado e pacífico. Temos excelentes relações com o país vizinho, tanto é que compartilhamos muitos quilômetros de fronteira seca sem que haja conflitos evidentes. Na foto acima, de Vânia Möller, a Ponte sobre o rio Jaguarão é o símbolo dessa coexistência. Mas no episódio que o Diário da Fonte vem seguindo, baseado na imprensa de uruguaianense e em entrevistas exclusivas com a vítima e sua família, a situação é outra.

A Marinha uruguaia já tinha se pronunciado: 50 tiros no pescador brasileiro Vilmar Rosa Duarte, que foi atingido por trás, fugiu se arrastando pelo mato, escapou e foi salvo numa operação delicada no hospital de Uruguaiana. A Marinha brasileira, segundo me contou Vilmar pelo telefone, registrou a ocorrência e teria comprovado que ele e seu companheiro de pescaria estavam desarmados.

Esse é um assunto para o Ministério do Exterior, por envolver conflito com forças armadas de país estrangeiro; para o Ministério da Defesa, por envolver militares armados do Uruguai; para o Executivo federal, já que envolve conflito entre países vizinhos. Mas o caso foi parar nas mãos de vereadores para esclarecer os fatos com os uruguaios, segundo informa o jornal Momento de Uruguaiana:

“MARINHA URUGUAIA DÁ SUA VERSÃO PARA
O INCIDENTE COM PESCADOR BRASILEIRO


Dois vereadores da Comissão de Direitos Humanos da Câmara Municipal de Uruguaiana reuniram-se, na quarta-feira, 1º., com o capitão Juan Montero, comandante da Prefeitura Naval do Uruguai, em Bela União. Os vereadores e o comandante trataram do caso do pescador brasileiro, Vilmar Rosa Duarte, 60 anos, ferido por marinheiros uruguaios no Rio Quaraí.

O fato ocorreu na noite de 11 de março passado, próximo à cidade de Barra do Quaraí. Duarte e outros dois colegas pescadores foram alvo de dezenas de disparos de arma de fogo de uma patrulha uruguaia embarcada. Dois disparos alvejaram Duarte pelas costas e ele necessitou de socorro médico no hospital Santa Casa de Caridade de Uruguaiana. No relato à Comissão de Direitos Humanos da Câmara Municipal de Uruguaiana, Duarte disse que ele e os colegas pescadores estavam em águas brasileiras do Rio Quaraí e que foram surpreendidos pela violência dos marinheiros. "Estávamos desarmados e, quando vimos a embarcação uruguaia, pensamos que eles precisavam de ajuda. Nos aproximamos para prestar auxílio, mas fomos recebidos a tiros pela patrulha", disse Duarte.

VERSÃO DOS URUGUAIOS

Na reunião com o comandante da Prefeitura Naval de Bela União, os vereadores José Clemente Corrêa (PT) e Luis Gilberto de Almeida Risso (PMDB) ouviram a versão da marinha uruguaia sobre o caso. "O comandante não negou os disparos efetuados pela embarcação uruguaia contra os pescadores, mas disse que os disparos foram em resposta a um disparo efetuado contra a patrulha embarcada uruguaia que, naquela noite, estava retirando uma rede de pesca que impedia a navegação no Rio Quaraí", disse o vereador José Clemente. "O comandante também alegou que a ação da patrulha ocorreu em águas uruguaias e que a intenção dos marinheiros não era vitimar os pescadores", acrescentou.

A Comissão de Direitos Humanos solicitou a liberação do barco brasileiro apreendido, mas não foi atendida. A embarcação somente será liberada se o pescador Vilmar Duarte se apresentar na Prefeitura Naval do Uruguai para prestar declarações sobre o fato. O comandante garantiu que o pescador não será preso se procurar a Prefeitura Naval. A Comissão de Direitos Humanos é presidida pelo vereador Luis Gilberto de Almeida Risso (PMDB), e integrada pelos vereadores José Clemente Corrêa (PT), Ronnie Mello (PP), Rafael Alves (PSDB) e Francisco Barbará (PMDB).”


CONCLUSÃO DO DIÁRIO DA FONTE

Quer dizer então que eles: 1. admitiram ter atirado, mas, sem “a intenção” de atingir quase mataram Vilmar, que foi salvo por milagre. 2. acusam os pescadores de iniciarem um conflito contra marinheiros estrangeiros armados. 3. não devolvem o barco apreendido e ainda querem a presença da vítima lá no território deles.

É louvável a iniciativa dos vereadores, que foram tentar esclarecer os fatos. O que não pode é a versão dos algozes ganhar destaque sem que haja a contrapartida da vítima. É preciso entrevistar novamente Vilmar para reforçar sua versão, a partir do que disse a Marinha uruguaia. Fica parecendo, como sempre , que a vítima é culpada, e recebeu o “castigo merecido” (o famoso “alguma ele aprontou”). Não se pode admitir que os verdugos, depois de encher de bala dois cidadãos brasileiros desarmados e seqüestrarem o patrimônio brasileiro, ainda tenham o desplante de querer que Vilmar se apresente.

A versão uruguaia, confrontada com os fatos, não se sustenta. Eles dizem que estavam "retirando uma rede de pesca que impedia a navegação no Rio Quaraí". O rio é estreito, tem uns 60 metros de largura no Pai Passo. Qualquer ação tem de ser feita em comum acordo. Como podem decidir sobre a navegação, tomar atitudes de mão única, em águas compartilhadas? Iso não é motivo para perseguir e tirotear pescadores, ainda mais de país estrangeiro. Uma rede estendida começa no Brasil e acaba no Uruguai e vice-versa. A verdade é que o pescador foi atingido no barranco do lado brasileiro. Se tivesse sido atingido do lado uruguaio (o que seria lógico para a versão deles) então Vilmar não escaparia, não iria para Uruguaiana. Iria para Montevidéu, está certo?

Era mesmo o que faltava. O Uruguai canta de galo, faz pouco dos Direitos Humanos e ainda trata brasileiro atingido por seus disparos como um criminoso? Há fronteira para quê? Não tinha nada que ir lá pedir explicações. Os uruguaios já fizeram suas declarações: 50 tiros em Vilmar Rosa Duarte. Isso é assunto de soberania nacional, não de direitos humanos. Os presidentes dos dois países tomaram conhecimento do fato? O que está acontecendo no rio Quaraí? Eles são donos do rio, atiram e se garantem?

Ou tudo isso não passa de exagero? Devemos deixar para lá, não mexer em vespeiro, engolir o desaforo, achar que está tudo bem? Uma coisa é certa: se Vilmar for obrigado a ir, o Brasil sai perdendo. Tragam o barco de volta! E peçam desculpas! Não tentem colocar a culpa na vítima. Basta ser brasileiro para ficar sob suspeita?

RETORNO - Geraldo Hasse é quem me envia as fotos de Vânia: "As fotos anexas da Ponte Mauá foram feitas em janeiro pela Vânia Möller para matéria sobre contrabando. Uma delas foi publicada em página dupla na Panorama Rural. A Vânia é artista gráfica em Porto Alegre mas passa temporadas lá pela fronteira. Ela desenhou dois livros meus".

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