28 de agosto de 2009

SOBRE TWITTER, BLOGS, SITES


Nei Duclós

Quando falo em twitter para certas pessoas, lembro quando, antigamente, toda vez que eu conversava sobre cinema, música, literatura ou um bom programa de rádio, meia dúzia de imbecis se enquadrilhavam, abraçados e ficavam me olhando de maneira debochada, babando de satisfação diante do meu atrapalho em tentar provar que meu assunto não era perda de tempo. A única perda de tempo era demonstrar para mentes criminosas ágrafas que existe algo fora da sua psicopatia triunfante. Normalmente, depois que eu abordava temas como Elis Regina ou David Lean, ouvia um “ara, deixa disso”. O importante, para eles, eram assuntos como violência, putaria e ostentação.

Hoje a situação praticamente não mudou. Há os bobalhões que te olham enturmados e os outros, que se recolhem na casca da sua estupidez, desconfiados de tudo e todos, como se a vida fosse um eterno rumo à porcaria nenhuma. Já ouvi um monte de asneiras sobre os avanços da informação na rede. “Ora, essa tecnologia emergente é como espelhinho e bijuterias para índios, cuidado, não se deslumbre”. Uma coisa que realmente me irrita é quando falam que alguém está deslumbrado. É uma espécie de status dos que se encastelam na sua ignorância, usufruindo situação imitada de coronel do sertão sentado na varanda e fazendo pouco de tudo, já que a única coisa que interessa é quanto vai entrar em caixa espoliando o couro da escravaria.

O motivo de tanta encrenca, além do espírito de porco, que deve ser algo gostoso porque tanta gente exerce, é que ainda não descobriram a verdadeira natureza de um software. Se um produto virtual permite que você publique teu diário, como aconteceu no início dos blogs, então blog é diário de adolescente e não, como temos hoje, o ambiente poderoso de todo tipo de mídia, de jornal a revista, de livro a relatório, de literatura a marketing. Se existe a possibilidade de colocar teu currículo num site, então o site é uma coisa imóvel, engessada e não vale nada, e não como é hoje, um espaço nobre de difusão de informações e idéias.

E se o twitter serve para publicar abobrinhas pessoais, então o twitter não presta. É preciso entender que o twitter é uma janelona para o que se produz de mais importante no mundo. Basta saber buscar, escolher bem quem você vai seguir, pesquisar. Numa só página, vi links para um belo artigo sobre Rimbaud, uma entrevista importante sobre ideologia pós-colonialista, uma sequência deslumbrante de fotos sobre o Ramadam, entre inúmeras outras pistas. A maioria está em inglês, mas o translate do Google está bala, não é mais aquela coisa tosca de antigamente. A tradução simultânea está dando de dez no que acontecia anos atrás. Dá para sacar tudo e acompanhar os fatos sem ficar confinado aos artigalhetes da ex-grande imprensa.

Quando me falam nessas sumidades obsoletas que pontificam em espaços pagos, dizendo besteiras e muitas vez copiando (como deu para notar esses dias em eminente escritor, que chupou artigo sobre uma tendência atual nos Estados Unidos), acho graça. Com o twitter acabou essa bobagem. E não apenas isso. Você hoje pode acessar qualquer jornal do exterior e ficar sabendo o que se passa muito além do que a imprensa nativa publica e os blogueiros repercutem. Mas é preciso saber procurar. Aqui no Diário da Fonte, a jornalista e antropóloga Ida Duclós é a nossa especialista, que descobriu como usar ao máximo a nova ferramenta e está ensinando várias pessoas. Ela me abastece de informações o dia inteiro.

Claro que se você ficar seguindo a Xuxa (que quer “processar o twitter” porque levou o troco dos ex-baixinhos que ela explorou a vida toda) ou acreditando em decisão judicial de censura na rede (esses dias uma juíza mandou tirar “o blog do site”), você continuará na mais completa ignorância, satisfeito com sua auto-suficiência sobre o que desmoraliza toda e qualquer idéia fixa.

No twitter, é possível participar, por exemplo, de um fórum de debates entre deleuzistas e marxistas. Mas se achamos importante apenas as falcatruas do Senado, as asneiras do presidente, as mentiras sobre a economia e fechamos os olhos para um mundo que existe lá fora e continua em frente, apesar do nosso milenar atraso, então bom proveito. Toda vez que alguém falar em twitter dê aquela risadinha babosa e acerte o vizinho com o cotovelo enquanto aponta o incauto que resolveu levantar o assunto. Exerça a esperteza caipira. Dããããã.

RETORNO - 1. Magnífica edição da revista Sibila, editada pelos poetas Regis Bovincino e Ronald Augusto que oferece, entre muitas leituras importantes, uma extensa entrevista com João Cabral de Melo Neto. Leia sem dó nem piedade. É biscoito fino dessa que é uma publicação cada vez mais imprescindível.

2. Alguns links pontuais do twitter: Entrevista da Eurozine com Achille Mbembe sobre a teoria pós colonial. Visite a Agenda 2020, tremendo site gaúcho. Babe com Godard e a outra história do cinema - altos estudos via twitter. Fotos sensacionais do Ramadan.

3. Imagem de hoje: Muçulmanos fazem compras para o Iftar, o jantar do sol que rompe o jejum, em Chalk Bazaar, o mercado tradicional Iftar em Daca, Bangladesh no domingo, 23 agosto, 2009. (AP Photo / Pavel Rahman) #

Nenhum comentário:

Postar um comentário