24 de setembro de 2009

O QUE É LIMITE?


Aproveito o mote da escritora Vera Molina no jornal Momento de Uruguaiana, que abordou o tema dos limites, para tentar definir algo sobre o assunto. Vera fala da diferença entre a imposição – para crianças e alunos, em casa ou na escola – e o respeito aos limites, que se refere ao comportamento adulto. O segundo depende do primeiro. O que é limite? Uma barreira intransponível, algo que claramente não pode ser ultrapassado. Não é dizer “não pode, viu?” ou, “olha que você não vai ganhar doce”. Ou: “não invada Honduras, só porque te achas o dono da razão”. É algo que se equipara a uma arma apontada contra você. Porque se existe um exemplo radical de limite, esse é o assalto. Na hora agá, você sabe que não pode fazer nada que faça disparar a arma.

Para que haja limite, é preciso que exista entre os adultos a noção clara, o conceito explícito da barreira a ser interposta. Não é possível que alguém se sinta no direito de pixar uma escola que foi pintada em mutirão por pais, alunos e professores, como aconteceu recentemente em Viamão. A professora foi criticada porque colocou o menino na frente de todos refazendo a besteira. O comportamento da professora também pode ser criticado, pela maneira como encaminhou a punição. Mas o ponto é a barreira. Se o garoto, de 14 anos, pixou, é porque o limite não existe, já que não funciona.

O grande problema é que não há consenso, no mundo adulto, sobre o limite. “Não deve haver punição senão traumatiza”, dizem os pedagogos. Deve-se manter o diálogo etc. Sei bem o que era diálogo quando fui adolescente. Um dia, meu pai soube que respondi mal para um professor e me mandou pedir desculpas imediatamente. Detalhe: estávamos no meio do almoço. Corri até o colégio, que fica na frente da casa onde me criei e procurei o célebre Cachorrão, ou Irmão Eugênio (seria esse o nome? Santanenses, acorrei), mas não o encontrei. Voltei e expus a dificuldade. Meu pai então sacudiu o dedo para cima de mim e me ordenou que pedisse desculpas logo que o encontrasse. Viu? Houve diálogo. O moleque ouve e obedece, desde que o adulto tenha razão e saiba também de seus próprios limites (não precisa espancar nem nada, basta a moral).

Os brasileiros vêem agora a educação sendo vilipendiada em plena gestão do “deficiente intelectual”, como se definiu Lula recentemente. Violência sem limites nas escolas entre alunos, professores, pais e orientadores, num quebra pau generalizado, confinado no noticiário a casos isolados. “Bate como eu te ensinei”, dizia a mãe de uma briguenta, por coincidência “monitora” do estabelecimento de ensino. “Bate que teu pai está lá no carro”, ou seja, te garante. Tiros, facadas, socos, pontapés, perdeu-se completamente a noção de limite. Não há barreiras, porque os adultos no Brasil perderam o pulso e a nação está à deriva.

O limite é implantado dentro da pessoa quando ainda é criança. É a velha história do elefante bebê preso por uma corda frágil, suficiente para deixá-lo na soga, fácil de rebentar quando vira adulto, mas, como está acostumado, não arrebenta. Claro que isso contraria a moderna pedagogia, que faz pesquisas para provar que a palmada atrapalha o desenvolvimento psicológico da criança. A violência física bruta, exercício do poder sem limites, é que estraga as crianças. A imposição de limites, semente do futuro respeito (fundamental numa democracia) é outra coisa. Nossos pais aprovavam a palmada, mas não era a surra o fundamento, mas sim o exemplo, a cobrança, a barreira imposta como algo impossível de transgredir.

O método tem de vir do consenso entre adultos. Há interesse em impor limites? Ou seremos todos mortos pelas novas gerações em fúria, à vontade para fazer o que bem entendem? Ou não teremos chance de exercer uma educação amorosa e pacífica,porque a falta de limites extrapolou e jogou todo mundo na vala comum?

Na política, o limite chama-se Constituição. Não pode, viu Zelaya? É punido, viu? Não atente contra a segurança interna nem externa, viu presidente Lula? Se atentar contra a segurança, como está acontecendo agora em Tegucigalpa, pode sofrer impeachment, que é o nome certo do limite nesta altura do campeonato. No mínimo, vai levar umas palmadas do vice-presidente, José Alencar (demorou, Excelência, passou da hora de dar um corretivo em quem desrespeita a soberania alheia).

RETORNO - Imagem desta edição: peguei daqui.

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