17 de setembro de 2009

QUEM COLOCOU O BRASIL NO LIXO?


Nei Duclós

O pensamento produzido por brasileiros colocou a nação na lixeira. Não digo "intelectuais" porque o Brasil burrificado, resultado dessa ação colonizada, onde medra o ressentimento contra a formação escolar, intelectual virou nome feio. Para apartar minha crítica dos que odeiam a universidade, especialmente a pública, chamo de mente colonizada as pessoas que, por gerações fizeram a costura orgânica que desaguou no tucano-petismo, que é o país sorridente no topo devorado pela miséria e a violência por todos os lados. Sorridente por quê? Basta ver as estatísticas, que mentem sobre nossa redenção econômica e que gera a gargalhada impune dos que torram o dinheiro da nação. Basta lembrar da fuça burra do FHC sob chapéus universitários globais, depois de entregar o país para a estrangeirada especulativa. Ou o ar triunfalista de Lula, aos beijinhos com sua invenção, Dilma, repartindo o futuro butim do pré-sal, já que o atual está todo comprometido. Futuro, vírgula: eles já gastam agora o que nem será arrecadado depois.

A culpa então não seriam dos políticos? Esses participam, mas são apenas caudatários da produção do pensamento sobre o país. O que diz, em linhas gerais, essa superestrutura sem contestação, imposta aos estudantes como verdade absoluta e que gera clones diários de uma contrafação (a generosa indústria das citações sob o enterro perene das idéias insurgentes, ou seja, originais)? Diz que o Brasil tem uma origem sinistra, fundada no crime sem punição. E que esse crime foi cometido à revelia de exemplos de superior estatura moral, intelectual e política, como foi o caso desses portentos, os ingleses, ou desses cretinos que instalaram a tirania logo depois da Revolução, os franceses. Para a produção de pensamento hegemônica nativa, o Brasil é culpado por existir, pois deveria ser uma extensão de centros civilizados, como Londres, Paris ou Amsterdã e jamais ter sido, como foi, obra autóctene criada a partir da colonização portuguesa.

O império português, para esses exegetas, é a expressão mais cabal e completa da porcaria infame da História. Escravista, burra, porque não fez a industrialização e entregou-se ao mercantilismo sem freios e sem raízes. Não se leva em conta as transformações radicais do Império português, que também são colocadas na vala comum. A gestão pombalina, a constitucionalização, a transferência do Império para o Brasil em 1808, a Independência fruto da estratégia real aliada ao imaginário nacional emergente, tudo isso é considerado uma nojeira sem fim. Sujamos as mãos ao nos aliar aos ingleses na Guerra da Independência. Deixa-se de lata a gloriosa luta do povo brasileiro por três longos anos, de 1821 a 1823, com batalhas ferozes, destacando-se a Batalha do Jenipapo, no Piauí, a 13 de março de 1823, quando a pobreza armada de facão enfrentou a artilharia de tropas portuguesas treinadas. Viva Jenipapo! Piauí, presente!(Na foto, a celebração da batalha, no Piauí, onde a memória da guerra foi resgatada).

Essa porcaria a que foi confinada o Brasil em séculos de luta, em que se conquistou um território a ferro e fogo, em que uma elite projetou-se de maneira brilhante organizando um império indivisível, em que a unidade foi garantida apesar do esforço de retaliação em províncias promovido pela metrópole, tudo isso não passa de perda de tempo, na visão tosca dos "pensadores". O importante é que aqui não medrou o chamado liberalismo "democrático" inglês ou americano, mas um absolutismo que fez concessões para se manter (queriam que o poder se atirasse do alto da Serra dos Órgãos?). Deixa-se de lado que a obra Brasil surge depois do malogrado esforço da Revolução Francesa, que depois da carnificina desaguou na tirania, ou do trabalho ingês de depredação do mundo, que saqueou todos os continentes e levou a fama de libertador de escravos. A partir de experiências frustradas no Exterior, a elite brasileira e portuguesa procurou novos caminhos, que são tratados aos pontapés pelos nosso "pensadores".

Não vou citar nomes porque são todos! Não há perigo de ser diferente. Todos falam a mesma coisa, em uníssono, formando assim um imaginário nacional suicida, que se reflete no separatismo infame que nos assola atualmente, na negação da nacionalidade, nas duplas cidadanias, na fuga em massa do território, no desprezo a tudo o que é brasileiro. Os governos que expressam os algozes são confundidos com essa miséria intelectual a que fomos confinados. Como se Lula ou FHC, que definem a falta de caráter dessa obra, fossem a confirmação da calúnia contra o Brasil.

Exemplos de anti-nacionalidade existem de sobra. Meu amigo Bebeto Alves esteve em Brasília no dia do jogo em que o Brasil deu 3 a 1 na Argentina, segundo revela na sua excelente coluna do jornal Momento de Uruguaiana (cada vez melhor, cada vez mais lido, cada vez mais importante, editado pelo casal talentoso Ricardo Peró Job e Vera Ione). Bebeto ficou estarrecido com a pergunta, séria, que fizeram: se ele iria torcer para a Argentina, já que é gaúcho. A que pontos chegamos. Desconhecer o Brasil é um consenso granítico.

Citei a Guerra da Independência no blog de Augusto Nunes e um leitor dele disse que deveríamos ter perdido a luta. Verdade, está lá, vejam. Há um banzo a favor da invasão holandesa, do domínio inglês, entre outras barbaridades. Há ódio e desprezo a Portugal e, por extensão, ao Brasil. Há deboche diante do nosso nativismo do século 19. Hoje incensam a seleção, mas foi só começar a jogar nas eliminatórias e todo mundo caiu em cima dizendo que somos uns merdas no futebol, que Dunga não prestava etc. Agora, de carona, ficam elogiando, mas bastará uma derrota ou empate para voltarem as catilinárias.

Ao jogarem o Brasil no lixo na superestrutura, no imaginário, nas análises, os autores entreguistas refletem a necessidade de os bandidos continuarem dominando. E retroagem sobre a sociedade de maneira impactante, esvaziando os espíritos e disseminando a desesperança. Quem haverá de contestá-los? Quem fizer isso cairá no ridículo. Ora, ora, ora, são semi-deuses. Basta vê-los com seus gestos estudados, suas rugas significativas, seus queixos levantados, sua empáfia e sua pseudo atenção na diversidade e nos oprimidos. São todos colonizados, paga-pau de estrangeiro. Depois que descobriram ser o Cebrap obra da CIA (daí veio a famosa "Teoria da Dependência", de FHC), tudo ficou muito claro.

A culpa é dessa obra venenosa gigantesca, presente em todos os livros sobre o assunto publicados por aqui. Raramente temos um Darcy Ribeiro e sua abordagem antropológica, às vezes utópica, do Brasil para brasileiros. Não temos pensamento a favor do Brasil. O que temos está completando centenários. Está tudo remando contra. Por isso aqui, no Diário da Fonte, um dos últimos redutos da Pátria, resistimos. Abaixo a falsa intelectualidade entreguista. Viva o Brasil, terra adorada. E não venham dizer que isso é patriotada, que patriotada é outra coisa, é o uso anti-ético do nome da nação para proveito próprio. Não ganho nada com isso, graças a Deus. Apenas incompreensão e indiferença.

Mas "confio na solidão que nos une" e "Ao Brasil tenho um recado: estou vivo, entornando o caldo, na mesa comum, com as mãos em brasa", como digo no meu livro Outubro. Sim, auto-citação. Queimei os navios.

RETORNO - Como queríamos demonstrar: tendo crescido à sombra dos pseudopensadores orgânicos, que inventaram a balela de operário no poder para melhor entregar o país e encher os bolsos de grana, Lula abriu o Banco do Brasil (do Brasil, vejam bem) para a "participação estrangeira. Ou seja, está jogando mais patrimônio brasileiro no lixo da gula gringa. Até quando? Até quando durar a atual ditadura. Att: li essa notícia no excelente blog De olho na Capital, de César Valente, que agora conta com a participação de Mario Medaglia todos os dias e Emanuel Medeiros Vieira aos domingos. Um timaço.

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