11 de dezembro de 2009

O QUE É PAZ?


Paz é a situação de conforto e alívio proporcionada pela ação vitoriosa de chutar o traseiro alheio. Se você dá coice no semelhante que está lhe incomodando, derrotando-o nas suas pretensões de encher o saco, então você terá paz. Os americanos são mestres nisso. Jogaram duas bombas atômicas em populações civis do Japão quando a Segunda Guerra já estava ganha. Mas era preciso dar o pontapé definitivo nos japs que ousaram destruir aquela frota no Havaí. Agora Obama (sim, ele pode) manda 30 mil soldados para o Oriente Médio enquanto recebe o Nobel da Paz.

O ato de chutar os outros pode reverter contra o chutador. Os alemães, por exemplo, jamais se livrarão do crime de ter mandado para o forno 11 milhões de pessoas, sendo seis milhões de judeus. Nunca serão perdoados e no ano cem mil haverá filmes sobre os nazistas. O erro dos alemães, além de terem perdido a guerra, foi não ter criado um sistema de espetáculo a seu favor. Os americanos foram derrotados no Vietnã, mas inventaram o Rambo e o Oliver Stone. No fim, ganharam.

Inventar algo a seu favor é mentir. Todo currículo mente. Tem especialista em currículo, que manipula a percepção do empregador. Tem estreante que vem com currículo, quando deveria revelar apenas a data do nascimento, o que nem sempre é necessário, já que, para os mais velhos, a certa altura da vida toda a humanidade ganha a cara de bebê. Acho graça quando vejo a gurizada deitando sabedoria bem postada em cargos importantes. Um juizinho de merda, apaniguado do poder idem, com carinha de porquinho Chonchon, esses tempos “pediu vistas” de um processo. Ora, vai jogar bulita.

Quando me pedem currículo ofereço cinco linhas, senão assusta. Não por ser grande coisa, mas por ser coisa grande, interminável. Significa que não suportei a maioria dos empregos. Migrei pelas redações como um zumbi. Acabei ficando mais tempo com o Mino Carta, que me aturava, e na Fiesp, para onde eu podia ir de metrô. Adoro trem, trilho, vagões, comboios, aquele barulho de tatunc, tatunc, tatunc.

Mas, e a paz? É verdade. Me perdi no assunto. Paz é ficar na rede e imaginar como eliminar a população inteira do planeta, enterrar no buraco negro tudo o que faz barulho e navegar no éter do silêncio absoluto. Isso só vai ser conseguido depois que a grande diversidade do traseiro humano for devidamente chutada pela nobilíssima capacidade de encher a boca do mundo de pasta de dente. Daqueles fedidas, que entopem.

Cada vez mais me impressiona a cara de pau dos atuais líderes. Obama é um espanto. O cara diz que para ter paz é preciso matar gente. Ora, mate gente mas não fale em paz, tchê. O nosso daqui diz que o povo está na merda, o que é uma constatação importante, dado que ele está no poder há sete intermináveis anos. O truque do sujeito é passar por cima dos partidos (“Não importa se é desse ou aquele partido”) e falar diretamente com o eleitor.

Jamais teremos paz enquanto não for destruído esse sistema que gerou uma sucessão de nulidades na presidência, desde 1964. Eles, sim, usufruem da paz total, já que nos chutam desde aquela época. O mais engraçado é ver a Lucia Hippolito fazer sucesso dizendo “é estarrecedor” quando aborda a censura no Estadão. Estarrecedor é essa súcia de falsos formadores de opinião se locupletarem no regime político e agora, quando tudo foi desmascarado, vir posar de vestal. São corruptos, estão envolvidos com a bandalheira. Jamais ousaram peitar o sistema. Ficaram fazendo denúncias, comentando de olho arregalado, e não viram que a tirania se serviu de todos para brincar de democracia. Somos todos culpados.

Isso não quer dizer que não devemos continuar lutando por uma verdadeira democracia. Mas o caminho certamente não é ficar puxando os cabelos diante dos fatos. Tentem entender a merda antes de comentá-la de maneira superficial e irresponsável. Oh, que coisa, os Sarney, como eles são! São da ditadura civil, que nos governa, seus! Não existe fato isolado. Tudo se costura, e se desfaz, como na colcha de tricô de Penélope.

RETORNO - Imagem de hoje: Rambo "ganhando" no Vietnã.

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