23 de janeiro de 2010

AINDA O HAITI


Nei Duclós

Haiti ainda respira
Na vala comum do estouro de pedra
No grito terminal de braços e pernas
Na ligação surda do túmulo/caverna
Na fila faminta de uma nova guerra

Haiti ainda espera
Nas ruas plantadas de daninha erva
Na briga entre bandeiras sem trégua
Na milionária indústria da miséria
Na mão mentirosa do mundo estéril

Haiti ainda coopera
Sumindo anônimo pela bruta reza
Desperdício de óvulo e de esperma
Funeral de dor em campo aberto
Expressão completa da gangrena

Haiti ainda acena
Como um sinal depois da tormenta
Como porto submerso de pálido lenço
Afogado no túnel da memória zero
Trilha de choro dos perdidos da terra

Haiti ainda emperra
Pombo correio que migrou sem asas
Bússola em rodízio no convés amargo
Poema ferido na corte de náufragos
Entre amigos inúteis como o deserto

RETORNO - Escrevi este poema despertado pela ideia de Julio Monteiro Martins, da revista Sagarana, que me mandou o seguinte recado:

"Caro amigo Nei Duclós: Tendo em vista a tragédia humana e natural no Haiti, que continua a ser incorporada sob o olhar atônito do mundo, nós pensamos da poesia como um meio de expressar a dor, a denúncia ea cobrança de humanidade necessária neste momento. Assim, decidimos dedicar este sábado para os poemas que procuram expressar e revelar tudo o que a entranhas da terra está mostrando, nesta ilha do Caribe. Convidamos alguns poetas italianos, nativos ou migrantes, que contribuíram com poemas inéditos sobre o assunto. Esperamos que esta contribuição se some à multidão de vozes que estão aumentando em todo o mundo para apoiar o povo haitiano. Nós convidamos você a visitar a página que estará online até próxima sexta-feira, e, se possível para divulgar esta página para seus amigos. Obrigado,O Editor de Sagarana."


Atenção: a foto é de Carlos Barrria, da Reuters.

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