9 de fevereiro de 2010

BEST- SELLER É TÍTULO


Visito às vezes algumas estantes de livrarias e vejo o que está pegando. Fico com vontade de escrever também um best-seller, mas tenho preguiça. Mais fácil é levar literatura a sério, queima menos neurônios. Mas para quem quiser se arriscar na aventura, já que dá uma grana preta quando acerta no veio, lá vão algumas dicas

Você não crava um campeão de vendas com títulos como O Velho e o Mar, Lord Jim ou Terra dos Homens. É preciso imaginação, criatividade:

ROSICLEY E EU, por exemplo, que pode versar sobre a relashonship entre a autora e uma cadelinha poodle num lugar remoto da África cercada de savanas prenhes de leoas famintas. Faça Rosicley ser adorável quando é entregue pelo serviço de postagens australiano (ela veio de Sidney) para a dona, uma bio-pesquisadora ambientalmente correta e que estuda os carrapatos em macacos canibais gays. Ameace a sobrevivência de Rosicley e arranque lágrimas dos leitores que torcem pelos macacos.

QUALQUER COISA EM KABUL - Seja como for, como dizem os textos de revista, tem que ser em Kabul, seja onde isso for. Livreiro gastou, mas pode uma sorveteiro, um jogador de dardos, um motorista de camelos caolhos (ou pentelhos). Recheie a história com a migração do protagonista para Los Angeles, e faça-o relembrar a infância, já velhão, cercado de caixas vazias de cereais. Como pedra de toque, reserve o final para um reencontro entre Kirjad (o narrador) e seu grande amor, Musbah, o camelo pentelho, que trabalha num circo para o atirador de facas.

MALVADO GETULIO - Esse é um titulo que atrai grande quantidade de verba pública, pois se justifica só pelo tema escolhido. Pinte o ex-presidente Vargas como o baixinho sinistro que obrigou os jogadores brasileiros a jogarem como se Hitler fosse o técnico, no lugar de dizer que graças a ele foi criada a seleção brasileira. E diga que todos os gênios da música popular da sua época brotaram espontaneamente porque raios solares foram enviados por ETs gringos. Assine com um pseudônimo, desses tão a gosto do mundo diplomático e dos jornalões paulistas, com sobrenomes clássicos e uma pitada de alemão, como Plínio Eduardo dos Mangolões Candido Rech.

O ECLIPSE DO LADRÃO DE RAIOS AO AMANHECER DO SÍMBOLO PERDIDO - Com esse título, você pega todos os leitores dos primeiros lugares das listas oficiais de best-sellers. Invente que a Kabala já era, o quente agora é o livro Vodu da civilização Ameríndia Marajoara, encontrada em seborréias vegetais da biodiversidade da Baixa Amazônia, lá onde o Mangabeira Unger perdeu os papers. Mostre que o símbolo perdido é super parecido com o retrato do sorveteiro de Kabul, assim poderá aumentar seu espectro de leitura.

POR QUE AS MULHERES FANHAS SÃO SUPER-PODEROSAS - Eis uma boa tese para vender milhões. Explique que o feminismo é fanho e sempre termina as frases com “tá?!” para demonstrar superioridade racial. Não esqueça de fazer a protagonista falar como a Sandra Annenberg, da Globo, assim por divisões silábicas e lábios túmidos para reforçar a sapiência de quem tem Nojodieu. O jargão da protagonista deve ser: “Eu sou a vendedora de sonhos e você não”.

A CABANA DO PAI OBAMA - Ficção sobre o que vai acontecer com a gestão do atual presidente da República. Faça com que ele venda, no final do mandato, o troféu do Nobel da Paz por uma micharia para poder pagar o Chuck Norris pelo pau que dará no Berlusconi. Como Chuck vai achar insuficiente, encherá o sujeito de porrada até ele admitir que olhou mesmo para o traseiro da menor brasileira da Unicef e por isso foi punido com o assédio do Beslusconi à primeira dama Michele. Mas é tudo especulação. Quando tudo isso acontecer de verdade, você estará longe.

RETORNO - Imagem de hoje: magnífico trabalho de Ricky Bols, "Child into the moon", que bota qualquer capa de best-seller no chinelo.

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