6 de abril de 2010

SERVIÇO COMPLETO



Nei Duclós(*)

Recebo um baú de fotos com cenas da família. Quase todas se referem à escola: o desfile com o uniforme do Jardim da Infância, a entrega do diploma, a reunião com os colegas, o time do ginásio, os professores conversando com os pais, as rodas das bicicletas com papel crepom, ao lado de uniformes azuis e brancos, a saída do colégio.

A vida estudantil era hegemônica antes da reforma da educação promovida pelo regime de 1964, que hoje leva a fama da excelência do estudo, quando apenas usufruiu das gerações formadas antes do golpe de estado. A aprovação por decreto, dos anos 90 para cá, e agora a imposição de cotas raciais para driblar o vestibular apenas completam o serviço.

Lembro da cartilha Caminho Suave, criada pela educadora brasileira Branca Alves de Lima (1911-2001), que alfabetizou mais de 40 milhões de brasileiros, antes da atual febre de analfabetismo institucionalizado. Aprendi a ler no primeiro ano primário com ela. As letras eram identificadas com o desenho do significado das palavras que ajudavam a formar. A barriga do b era humana, o marfim do elefante fazia parte do e, as vogais unidas às consoantes levavam às sílabas, estas às palavras até chegar à frase e ao texto.

Debocharam até derrubar o famoso “Ivo viu a uva”. Mas com apenas uma consoante e quatro vogais era possível formar uma oração completa, suprema síntese de fácil e rápido entendimento, reveladora das possibilidades da linguagem. No seu lugar, atropelaram a mente infantil com palavras completas, que não fazem sentido à primeira vista. Mas esse sistema silábico caiu há tempos de moda.

A educação que sacode afirmativamente a cabeça, de maneira muda depois de grandes frases teóricas, aguarda que a platéia dos eventos entre luminares chegue à altura dos seus conhecimentos, enquanto a estudantada entra numa espiral ágrafa. O que existe é soberba. O que inexiste são políticas publicas, a começar pela remuneração decente de quem escolheu a profissão de ensinar (ou foi empurrado para ela, diante da falta de perspectivas).

Lembro que os professores retratados nas fotos que recebi exibiam vocação, no caso dos religiosos, somada a uma situação econômica estável, entre os mestres leigos. Isso transparecia na sala de aula, lugar de respeito, onde ninguém puxava a faca no meio da lição.

RETORNO - 1. Formada professora, minha mãe, Dona Rosinha, posa com sua roupa de gala da educação brasileira de excelência. Foi nos anos 30, época do Brasil soberano. 2.(*) Crônica publicada nesta terça-feira, dia 6 de março de 2010, no caderno Variedades, do Diário Catarinense.

3. Comentário de Marcos que merece destaque aqui. Diz Marcos:

Também fui educado com o modelo antigo, que dava certo, e fiquei curioso com o modelo que estão praticando agora, o tal construtivismo. As definições não mudam muito, como diz um tal Fernando Becker:"Construtivismo significa isto: a idéia de que nada, a rigor, está pronto, acabado, e de que, especificamente, o conhecimento não é dado, em nenhuma instância, como algo terminado. Ele se constitui pela interação do indivíduo com o meio físico e social, com o simbolismo humano, com o mundo das relações sociais; e se constitui por força de sua ação e não por qualquer dotação prévia, na bagagem hereditária ou no meio, de ! tal modo que podemos afirmar que antes da ação não há psiquismo nem consciência e, muito menos, pensamento."

Esta filosofia educacional só tem como objetivo destruir tudo o que fomos, como nada está pronto, acabado, como diz a definição, o conhecimento que recebemos de nossos pais e professores, que incluía principios espirituais e morais perenes, foi substituído pelo vazio. A estratégia política por trás do crime é evidente, o bando de cabeças vazias que o sistema educacional está produzindo perpetuará para sempre os Lulas e Dilmas e sua corja de mequetrefes no comando deste espaço de terra que outrora já foi chamado de país.

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