11 de maio de 2010

PORQUE DUNGA ACERTA E SEUS CRÍTICOS ERRAM



Na prova dos nove da seleção brasileira, a imprensa é mega-repetente. Já errava em 1958, como cansamos de saber por meio das crônicas de Nelson Rodrigues. Encheu o saco do Zagalo em 1970 até sermos tricampeões. Atazanou o Parreira e teve que deglutir o tetra. Cercou Felipão com tudo que é adjetivo desonroso e no fim foi obrigada a comemorar o penta. Agora foi a vez de Dunga. Encheram-lhe o saco até que ele venceu todas e recolocou a seleção no topo do ranking da Fifa. Não contente, a imprensa, na maré alta do fanatismo pelotudo, inventou Ganso e Neymar só para pentelhar o Capitão.

Pois muitos jornalistas e fanáticos levaram o troco com a convocação dentro de tudo o que Dunga prega. A verdade é que não aceitam as opiniões e o método do treinador. Implicam até o osso com tudo. Queriam o espalhafato de circo dos meninos da Vila, que comemoraram os gols de um campeonato estadual ganho com a calça na mão, pois quase o Santo André levou. Cantei a bola aqui antes e os santistas caíram em cima de mim. Fanáticos ridículos. Fui chamado de bocó para baixo, e que eu não entendia nada de futebol.

Eu entendo de jornalismo, de linguagem, de falas de fontes, de informação e não de circo. Como pode um mês de campeonato estadual definir os rumos de um trabalho feito ao longo dos anos, sob vaias, enfrentando as maiores dificuldades? Por que tiraram o Ronaldinho Gaúcho na última hora do bolso do colete, quando vimos como foi omisso, baladero, indiferente o tempo todo e só agora, na véspera, achou que iria ser premiado? Pois não foi. Quem vai é Nilmar, cracaço que fez gols sempre que entrou em todos os amistosos e disputas, dando o sangue e vestindo a camisa da seleção.

Esse é o critério, a fé, a dedicação e a competência. Adriano teve sua chance, desperdiçou. Meteu-se em encrencas, engordou, pirou, se fresqueou. Quem se manteve no prumo, faz parte da equipe. Não se pode arriscar quando times que representam países se enfrentam num torneio de vida ou morte. Já tem gente, com medo do título, chamando Copa de loteria. Contem outra. O Brasil ganhou cinco vezes porque levou talento embasado numa estrutura técnica e tática, numa experiência bem aproveitada, não porque somos pavões misteriosos vindos das galáxias, como querem os comentaristas barrocos que em vez de escrever sobre lantejoulas e bordados ficam pontificando nos programas esportivos.

Teve jornalista notório que identificou os garotos da Vila com a democracia e o Dunga com a ditadura. Meus Deus do céu, até onde vai a forçação de barra. A vivência de Dunga foi formatada ao longo de décadas, numa carreira sólida e vitoriosa. Quem faz, pensa. Conceituar não é exclusivo dos “pensadores” profissionais, dos professores. O craque, ou alguns craques, sabem, nem todos. Pois a experiência que se transforma em linguagem tem grandes chances de acertar. Dunga palmilha seu território com prudência, com experimentação permanente, com persistência, com objetividade.

E está levando grandes craques. Além de Nilmar, tem Kaká e Robinho, e grandes jogadores nas suas posições, como Luisão, Lúcio, Daniel Alves. Há dúvidas sobre Josué, Doni, entre outros, mas eu confio em Dunga e acho que ele está certo e seus críticos, não. Chamar os outros de burro apoiado apenas nas aparências não ajuda ninguém a acertar. Basta um contratempo para o garoto Neymar tentar cavar a falta. Se algo dá errado na sua trajetória, ele entra em pânico. Com o tempo irá se acertar e poderá ser um grande craque. Mas agora fica de fora.

O que me irrita também é essa coisa de time. Os santistas queriam os garotos, os gremistas o Ronaldinho, os colorados o Nilmar, os flamenguistas o Adriano. Isso enche o saco. Seleção transcende time. O troço mais nojento do futebol é esse fanatismo marmanjal do cervejão em que os peludos se roçam em público achando que são os maiorais. Futebol é assunto de criança, mulher e velho também. Como se diz na fronteira, vão se roçar numa tuna.

E aguardem Dunga liderar uma equipe vitoriosa. Eu acredito no hexa na África do Sul. Temos craques, temos time, temos treinador. Vamos ganhar.

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