1 de outubro de 2011

JACK O MARUJO PÕE NA PRANCHA


Nei Duclós

Na guerra, é adaga e garrucha. No desaforo, é prancha. O capitão (que usa a imagem acima do Corisco de Othon Bastos, do filme de Glauber Rocha, para assustar os folgados) joga na água virtual, amarrado, a pessoa invasiva que cometeu algum deslize grave na sua presença. Esse é o mote da seleta de respostas do capitão neste post. Jack tem sido alvo de algumas impropriedades, principalmente depois que resolveu mostrar a fuça por meia hora na rede. Voltou ao normal, ou seja, ao confinamento da palavra, que sugere e navega na imaginação, não no bate-pronto da imagem, que não passa de uma versão. A imagem errada é a presente. Todas as outras estão certas. Pessoas precisam de boas embalagens para participar da voracidade coletiva. O que destoa sai da prateleira.

Vendo sua cara sóbria, perguntam por que não sorri (pelo menos não estava se abrindo na hora da foto). Já que pediram, Jack responde: “Felicidade é para os paisanos. Quem é da guerra tem outro perfil. A infelicidade é um bem precioso demais para alguém usufruir sozinho. Só digo a verdade. Mas você, por favor, não me diga”.

Também querem saber a origem do personagem. Explico novamente que foi criado por mim há 30 anos, mas ele se desenvolveu no Twitter, onde consegui formatar sua identidade (@neiduclos). O modelo é conhecido, mas Jack adquiriu vida própria.Transcende suas origens, que vem dos livros e filmes de aventuras. Não se trata de um pirata, mas lembra um. É durão e romântico. Perde o amigo mas não a piada. Gosta de sereia porque fica no alto mar e não o prende no cais. Do mar a sereia não vê o rosto do marinheiro, encoberto pela amurada do barco. Então canta para atrai-lo, porque ficou siderada pelo cheiro.

Por que o sr. escreve tanta bobagem? perguntou o discípulo. Assim tenho o que ler mais tarde, disse o mestre. Quando Jack o Marujo partir para sempre junto com a sereia, não anotarei mais suas frases. Então nós,habitantes deste cais, nos dispersaremos. Por enquanto, vamos aproveitar:


Gostei de conhecer o sr. ao vivo, disse a representante do colégio. Se me chamar de fofo vai para a prancha, disse Jack o Marujo

Por que o sr. colocou aquele sujeito na prancha, todo amarrado? Ele vai se afogar! avisou o Imediato. Me chamou de meu caro, disse Jack o Marujo

A sereia me deu um beijo de despedida, disse o papagaio para Jack o Marujo. O meu foi de língua, disse o Grumete, já amarrado na prancha


PEIXE BONITO NO GANCHO

O sr.precisa fazer um tratamento de pele e caminhar, disse a saradona. Já vi muito peixe bonito no gancho, disse Jack o Marujo

Você é feio, hem papagaio, além de velho, disse o sincero. Por que, quer me comer? disse o papagaio

Que péssima aparência, capitão, disse a analista. Isso que ainda não acordei, disse Jack o Marujo

O sr. é muito preso ao passado? perguntou o invasivo. Não.Naquela época eu não tinha a chance de hj de te dar uma surra, disse Jack o Marujo

Quem é o sr.? perguntou a visitante. Sou o mar, mas pode me chamar de capitão, disse Jack o Marujo

Vou condecorá-lo com a Ordem do Marinheiro, disse a Rainha. Prometo a presença do meu pai, Netuno, disse Jack o Marujo


DESAFOROS

Preciso que o sr. leve umas feras do mato para a Noruega, disse o contrabandista. Não trabalho com políticos, disse Jack o Marujo

Vamos matá-los, disse o corsário diante dos prisioneiros. Vamos fazer pior, disse Jack o Marujo. Liga no Jornal Nacional

Entreguem-se! Quantos são vocês? gritou o inimigo. Um Grumete, um Imediato e uma Sereia, disse Jack o Marujo. E minha espada de São Jorge!

O capítão fica em volta da nova sereia e não quer mais saber do batente, disse o papagaio. Qualquer coisa faremos peixe, disse o Imediato

Vamos levantar âncora, disse Jack o Marujo. O sr. está no bar, disse o Imediato

Içar velas! disse Jack o Marujo. Há dez horas estamos navegando, disse o Imediato

O sr. só quer elogios? perguntou Jack o Marujo. Só aceito de maravilhoso para cima, o que é bem pior, disse o argonauta

O sr. já enjoou com essas frases, disse o Blocked. Quem anda de barco enjoa, disse Jack o Marujo

Verbos defecivos se conjugam? perguntou Jack o Marujo. Apenas nas formas arrizotônicas, disse o Grumete. Escola militar, suspirou o capitão

Precisamos de um professor de náutica, disse o Instrutor. Não contem comigo. Sei boiar, mas por motivos misteriosos, disse Jack o Marujo

Estudam tabuada no fundo do mar? perguntou Jack o Marujo. Não, só solfejo, disse a sereia

Onde você quer chegar? perguntou o amigo. Ao Destino, disse Jack o Marujo

Por que tanta estátua de Osório?perguntou estudante.Quando ele morreu, o Imperador pôs o bravo nos ombros com a multidão,disse Jack o Marujo

O que é um bravo? perguntou o soldado. O Imperador foi a cavalo,sozinho, falar com rebeldes em Minas, disse Jack o Marujo. Acabou a rebelião

Deus não existe, disse o corsário. Devolva o relógio e fique de joelhos no convés! disse Jack o Marujo

Leio pensamentos, disse o místico. Então por que estou aguardando há meia hora aquela dose de rum? perguntou Jack o Marujo

Já roubaram muito do sr.? perguntou o Grumete. Já, mas não adianta levar o rio se a fonte permanece inacessível, disse Jack o Marujo

Mas só isso vocês vão reivindicar na política, batom? E os direitos humanos? perguntou Jack o Marujo. Humanos? responderam as sereias

Siga o meu ritmo, disse a ginasta. Impossível, sigo o das ondas, disse Jack o Marujo

A Pátria precisa do Sr., disse o magistrado. Ela está em boas mãos, Excelência, disse Jack o Marujo. Só precisa de uns ajustes de garrucha

O sr. quer mandar algo bonito para ela? perguntou o poeta.De mim ela terá só sal e esse rosnar da solidão na noite alta, disse Jack o Marujo

E onde ponho esse resto de saudade que está no chão?perguntou o encarregado. Jogue no mar.Ele irá matar a sede com isso, disse Jack o Marujo

Tanta sereia e o Sr. descornado só por uma, disse o conquistador. Esta sabia o Cisne Branco de cór,disse Jack o Marujo

O Sr. não tem medo, capitão? perguntou a estudante. O mar engoliu a terra,mas me poupou. O que deveria temer? disse Jack o Marujo

Onde está seu Norte? perguntou o educador. Pendurado na ultima agulha de um naufrágio, disse Jack o Marujo

Um almirante estrangeiro rendeu a esquadra diante do seu barco? perguntou o sargento. É impossível derrotar um bravo, disse Jack o Marujo

Primeira vez que vejo o mar, disse o lavrador. Então o mar nasceu agora, disse Jack o Marujo


ESCAMAS


Vamos descer e tomar hectolitros de rum? disse o Imediato. Pode ir. Eu fico. Ouvi um barulho de escamas em Sumatra, disse Jack o Marujo

Infeliz o dia em que te conheci, disse Jack o Marujo. Agora é tarde, disse a sereia pelo pombo correio

Vou me embora à meia noite, disse a sereia. Escama perdida depois do baile cabe em qualquer uma, cuidado, disse Jack o Marujo

Está com a cara marcada, levaste uma surra da sereia? perguntou o invasivo. Homem não bate em sereia, disse Jack o Marujo. Homem apanha

Quem inventou "nem tanto ao mar nem tanto à terra"? perguntou o filólogo. Alguém que ficou ancorado com a sereia no cais,disse Jack o Marujo

Vou libertá-lo dessas correntes, disse a Rainha depois da batalha. Só a sereia tem a chave, confessou Jack o Marujo

O sr. acredita em Deus? perguntou a sereia recém capturada. Agora acredito, disse Jack o Marujo

De que é feito esse teu capitão? perguntou a curiosa. Jack o Marujo é feito de aço, mas flutua, respondeu a sereia

O que é o amor? perguntou o Grumete. É um presente secreto da Lua cheia e das manhãs de sol depois do naufrágio, disse Jack o Marujo

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