2 de outubro de 2011

OUVI A VOZ DA SEREIA


Nei Duclós

ouvi a voz da sereia
me joguei da amurada
fui levado para o fundo
morri de morte matada

era só uma, a perfeita
mulher de quatro costados
valia por mil, a serpente
múltipla dose de fada

fui negociado no mármore
da ninfa de azul cobalto
pesado em marfim de prata
filhote em ninho de águia

prenda tesouro de jade
ombro de negro cobre
arisco lombo de farpas
blues de antiga guitarra

ciranda que desconheço
o mar arredemoinhava
o mal tecido nas bordas
pelas artes da malvada

joguei pra fora o destino
troquei a vida por nada
pescoço à mercê da Lua
escama imitando anáguas

não perco mais o concerto
da solista que me cala
não faz sentido o poema
quando o amor toca harpa


RETORNO - Imagem desta edição: Paulete Goddard

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