8 de abril de 2012

ACORDES


Nei Duclós

Durma com quem te imagina. Acorde com quem te sonha. Beije quem te cerca. Toque quem te deixa trêmulo.

Passei a limpo o poema. Vieste grudada na pena.

Fico aceso no fogo brando da tua presença, vibração serena

Sorris comigo, beleza.

Fui pra o descampado onde habitas, flor que nunca murcha. Lá aprendi a beber no teu cálice.

Usei palavras pesadas a teu pedido. Querias um pouco do bruto, misturado ao sensível.

Usaste o fio para me reter no labirinto. Quem pode contigo, absurda?

Estavas fora do alcance. Lá, onde ficam os poemas mais doces

Te levo para onde não nos veem. Contra o vidro, no último andar, te beijo. Pombas se debatem no alvoroço. Ouvem teu grito.

De repente ficaste pertinha. Respiras o meu ar, sedução sem pausa.

Não desisto de ti, fada. Suma no ar se quiser, mas tenho caçapas virtuais que fiz com meu desejo.

Montaria onde cavalgo o sonho e compartilha o mesmo destino de ser a galope.

Torceste a fila para um carrossel de uma só atração. Tens a chave da conexão, cavalinha.

Leve para cama. Não pese, a não ser que peçam.

Disse o que querias ouvir. Agora me surpreenda.


DE LADO

Te abordei de lado, como se fosses um navio. Assim tive acesso aos caminhos que levam ao fado. Provoquei o arrepio que antecede a carga.

De lado posso te pegar em qualquer altura, dominando planícies e promontórios que ficam depois de cada curva. Não seguro o que sentes porque estou atento ao que poderá ser ainda mais intenso.

Pensei em ti quando criei a estratégia. Escutaste sem saber que era contigo. Ou sabias?

Duvido que te prendas assim a esse laço. Queres te soltar, belíssima.

Separe um troco do seu tempo para me dar um doce.

Não fuja do seu compromisso. Mas não esqueça que estou cativo.

Vamos repetir? pergunta meu corpo para ti.

Sentimos falta dela, disseram minhas mãos.

Pedes um tempo por ter recuperado alguém de outro tempo. Não sei se aguentas. Nossas sessões foram guerras mundiais de sentimentos.

O roçar do teu braço ficou impregnado o dia inteiro. Não era cheiro nem formigamento. Era uma parte de mim, pulsando.


ISOLADA

Viagem foi só um álibi. Partiste para longe de mim, aqui mesmo.

Me dê as mãos, isolada. O barco virá com suas velas a pleno. Estaremos nele antes do anoitecer.

Ninguém me contou nada. Fiquei sabendo porque de repente subiste o olhar para as estrelas.

Ausência é sofrimento. Corrói teu tempo com seus dentes. Preencha com o amor de sempre. Ele continua lá, imprevidente.

Minhas mãos são você, quando estávamos perdidos um pelo outro.

Esqueça de propósito, não precisa. O corpo lembra.

Perca o horário só para ficar. Ganhe o dia. Não embarque.

Por isso a insônia. Porque se recusa ao desmaio.

Desaparece, como se tivesse esse direito. Vou convocar a Força.

Custa responder? Não precisa amar.

Por que esperar a semana acabar para ler o que tenho a dizer? Leia agora no meu coração de fora.


RETORNO – Imagem desta edição: Isabelle Adjani.

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