16 de abril de 2012

ARQUITETA


Nei Duclós

Achei que eu era meu próprio projeto. Mas sou obra tua, arquiteta.

O coração é só um detalhe quando há tanta pele.

Voltaste, andorinha. Ponha as asas em mim para eu adivinhar teus caminhos.

Disseram para prestar atenção em outras coisas. Não fosses um escândalo de beleza e graça, até seguiria a recomendação.

Quando começou a soprar o vento fui vê-lo levantar tua saia. Não pelo que fica à mostra, mas pela graça do teu passo na ondulação da cena

Pus você num link. Todas as flores clicaram.

Poesia é quando Deus medita e os discípulos escutam a melodia.

Não faça nada até chegar o poema. Ele tem um recado escrito em segredo. Encontre-me às seis, em Vênus.

Abrace os pingos da chuva em pensamento. Estou caindo sobre tua blusa molhando o seio.

Ser humilde é ser desprovido de soberba, não de talentos.

Amor findo é como esses desaparecimentos na dobra do espaço tempo. Acenamos para a equipe de resgate mas ela não nos enxerga.

Achei que ela tinha do embora. No fundo, fui eu que desapareci.

Tinha ciúme. O verso que lhe pertencia pousava em pétalas diversas.

Tudo te pertence, ave migratória. Carregas no bico o ramo que levaste do meu sonho.

Bela demais.O poema fica em desvantagem.

Finge que não é com ela. Depois reclama.

Passa voando e me deixa em ruinas.

Volta de surpresa quando não estou pronto. Perco a chance tentando o aprumo que nunca chega.

Fazes de propósito. Me abandonas no meio da valsa. Fico sem passos, só tropeços.

Te divertes vendo como me ajeito. Imagino ser tua forma de amor.

Não suma. Continuo contigo, apesar de tanto ruído.

Tudo isso eu digo como um ventríloquo. Olhas para mim e faço cara de paisagem. É meu jeito de te dar um beijo.



RETORNO – Imagem desta edição: foto de Louise Dahl Wolfe.

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