12 de maio de 2012

COREOGRAFIA



Nei Duclós
 
Poema é coreografia. Troque as palavras de posição. Exija que dancem sem som para ver se possuem ritmo interno. Deixe apenas o solo e oculte a sinfonia. Ilumine o que achar perfeito. E retire-se. O palco não lhe pertence.

Arte só existe dentro de nós. Quando terminamos de assistir um filme, ou saímos de um concerto, ou completamos a visita às obras da exposição, arte é o que você leva junto para o futuro. Leu o poema? Agora ele faz parte do teu acervo de amor.

Poesia é fé. Quero ser a marca no teu coração, prova de que passei pela Terra.

Tua beleza é ficar longe de ti e sentir falta.

Revi bastante os poemas. Gostei. Mas prefiro os que não fiz e que te surpreendam.

Inteligência é mais uma provocação da beleza insuportável.

Não basta dizer que continuas minha. É preciso que apareças, rainha.

É preciso mais do que um aceno para que eu volte a compor e pare de reler os versos escritos na maré alta do amor.

Primeiros brotos de flor que darão fruto daqui a um ano. Pequenas, vermelhas, fechadas. Segredos de romã, amor pelo avesso.

Quando tudo parecia perdido, ela confessa saudade. Onde deixei meu casaco de linho do primeiro encontro?

É comum invocar o mistério para não dar bandeira sobre a própria racionalidade. A feiúra se amansa quando não vê inteligência na beleza.

Veranica a pleno, a esta altura dando praia, como tu, quando tira a saia.

Minhas palmas em teus ombros. Meus olhos em teu fundo. Meu corpo ainda tenso. Teu rosto sem fôlego. Não vamos falar mais nada, pois já dissemos tudo.

O sorriso é a senha para o fogo.

Chega de conversa: onde está o beijo?


RETORNO – Imagem desta edição: cena de Pina, de Wim Wenders.