1 de maio de 2012

SOBREVIVENTE



Nei Duclós

Machucada de amor, estás de quarentena. Não por muito tempo, sobrevivente.

Viajei sem deixar bilhete. Reviras minha gaveta. Não se iluda. Meu adeus não está no poema.

Fazemos um par de náufragos na maré do tempo. Contamos com nossos braços e teus lábios, no revezamento.

Quando não consigo te dizer, escrevo. É quando me lembro e falo ao vivo, antes que me leias.

Dei-te amor, mas não compreendes. Achas que é perda de tempo. Desperdicei, mas dou a volta. Disponho de infinito acervo.

Pergunto até quando terei mel antes que o coração seque. Talvez eternamente. Talvez venha de ti, quando me vencerem.

Quanto te vejo, descubro que estou aqui a passeio. Praça de perfumes, glória suprema.

Meu coração é marinheiro, canto de sereia.

O verso é teu aliado, crisálida.

Escutou meu coração. Falei: socorro.

Rosto espesso de tempo, leveza quase de ausente, concentração de surpresas, expressão feita para dentro, que atinge o olhar em cheio.

Um beijo sara o que não tem remédio.

Não insisto. Sou profissional do desisto. Melhor ficar livre do que à mercê de um capricho.

Não te acho,agulha no palheiro. Sinto teu perfume e não me concentro.


Depois não se queixe da voz que eu tenho. Ela vem de longe, a cavaleiro de um tempo que não cede.

O que queres saber, eu tenho: amor no lado esquerdo, olhar em frente e beijo engatilhado de plantão no horizonte.

De longe posso arrancar teus panos. Não se engane.



RETORNO – Imagem destaedição:  uma diva clássica de Hollywood.  Olivia de Havilland?