30 de julho de 2012

ONÍVORO


Nei Duclós

Na poesia sou onívoro, berço e ruptura.
Prefiro o soneto ao trocadilho,
o molho à secura.
Palavra soberana sobre a sílaba.
E as vogais, rainhas.
Harmônicos signos sobre a fala bruta.

Já fui bom nisso, quando não escrevia.
Agora tateio o breu do acervo sem fundo.
Sou como os trabalhadores das minas:
fico na gruta toda vida
e só venho à tona
se houver inundação e vontade na busca.

Valha-nos, ofício sem sentido.
Sente conosco em frente à eternidade.


RETORNO - Imagem: Kate Moss fotografada por David Bailey.