17 de novembro de 2012

ESTRELA DE VIDRO



Nei Duclós
 

Faz poemas, mas não mostra. Prefere rasgá-los a descobrirem que chora.

Não me respondes. Preferes pintar uma estrela de vidro na parede.

Naquele tempo, sobravas. Hoje, mais escassa, descobres tardiamente o que havia por trás do meu olhar.

Poesia é cama. Não fique fazendo sala

Custamos a falar a mesma língua, intraduzível.
 
Pediu licença para ficar mais um pouco. Consenti uma eternidade antes.

Passou meu poema a limpo, em papel almaço pautado. Depois solfejou para os pássaros.

Quero que diga a verdade, ela disse, quando abriu seu caderno de poemas. E não me engane, como no amor.

Poesia é cama. Não fique fazendo sala.

Extraviou as malas, chegou só com a roupa do corpo. Não por muito tempo.

Mandou um postal do aeroporto, qualquer aeroporto. Estou só, dizia o acróstico formado pelas iniciais dos destinos dos voos.


CONVERSAS

- Não sabia que me querias, ele disse.
- Está tão difícil assim ler mulher? ela perguntou.

- Cada vez sei menos sobre você, ele disse.
- Isso vai piorar, disse ela.

- Não estou mais de castigo? ele perguntou.
- Está, e sabe quando solto? ela respondeu.

- Me conta uma história, disse o poema.
- Era uma vez o amor, disse a musa.


RETORNO – Imagem desta edição:  Judy Gardland.