27 de dezembro de 2012

ZAP ZAP: ALGUMAS CENAS DE MAIS CINEMA

Tenho visto pedaços de filmes ou filme sinteiros e compartilho aqui algumas impressões sobre o que me encanta e impacta. Roteiro, direção, interpretação, timing: muitos são os caminhos da Sétima Arte, em qualquer tempo.


ANIMAL, A HUMANIDADE QUE RESISTE

O filme de 2012 e vencedor de 35 prêmios, Animais do Sul Selvagem (Beasts of the Southern Wild, que os idiotas batizaram de Indomável Sonhadora) , do jovem cineasta novaiorquino Benh Zeitlin, é a radicalidade cinematográfica elevada à máxima potência.

A câmara oscilante como se estivesse a bordo de uma barcaça em fuga pela invasão das águas da barragem, captura a vida da menina de seis anos Hushpuppy ( Quvenzhané Wallis, inacreditável) e o pai alcoólatra e paupérrimo (Dwight Henry, arrasador).

Eles fazem parte de um grupo de pessoas que se recusam a abandonar a área que será inundada e por essa liberdade de escolha resistem até a morte, ou ao encantamento, pois a narrativa poética é a solução para transcender a barbárie.

As pessoas usam a força, a falta de misericórdia e as estratégias dos bichos para sobreviver. Mas em off a voz é de revelação e sonho. Não vale chorar, diz o pai para a menina em prantos antes do desenlace.

A dica do filme é de Ida Duclós. Eu nunca tinha ouvido falar nele.


O RISCO DE UMA DECISÃO

Revi a emocionante cena da narrativa dita em cima de um cavalo pelo pistoleiro que participara de uma revolta armada. O filme é Bite the Bullet (O Risco de uma decisão, 1975), de Richard Brooks.

Montado, indo e vindo em direção ao deserto, como a escolher as palavras e quase se arrependendo do que entregava assim para uma desconhecida, Gene Hackman conta para Candice Bergman sobre a cubana Paula, sua esposa, que conheceu numa guerra (“a batalha foi nossa noite de núpcias”) e a perdeu quando ela foi amarrada com outros reféns numa igreja tomada pelas tropas do governo.

Assalto!, gritou Paula para os combatentes do cerco, entre eles o marido. Selava assim sua sorte, mas apostava na revolução. Ao que os outros reféns, seguindo seu exemplo, gritaram: “Ataquem, ataquem!“ E a tropa realmente atacou, venceu a luta, mas os reféns foram sacrificados.

- “As pessoas com quem a gente casa”, diz Gene Hackman. “Eu não merecia Paula”.


SHARON NA VANGUARDA

A performance de Sharon Stone no filme The Year of Getting to Know Us, de 2008, dirigido por Patrick Sisam, é arrasadora. A mãe louca e obsessiva anti-lactose que atormenta a família com suas ideias fixas, com esgares de rosto demenciais e ao mesmo tempo compondo uma criatura de gestos e falas minimalistas, deveria ser aclamada pelo menos com um Oscar.

Mas passou batido. Preferem vê-la como a que cruzou as pernas em vez de enxergar a atriz que procura se superar. O filme foi apresentado no Sundance Festival, de obras alternativas. É muito bom. Um escritor traumatizado da infância que é salvo por um relacionamento maduro.