14 de abril de 2013

REBENTO



Nei Duclós

O amor pede para nascer. Em teu seio de seda ele se aninha. Alimentamos o rebento faminto para que brote em voo de flor verdadeira.

Fechamos os olhos para adivinhar o próximo passo diante do abismo. É apenas o momento supremo do salto que nos faz humanos.

Nossos rostos conversam sem palavras. Há um crepitar de segredos que jamais se revela. Melhor assim, vela que ilumina o mar calmo da noite poderosa.

Dividimos o medo. Eu de te perder, tu de eu ser o mesmo.

Toda noite eu remo. Vou de barco até os confins do vento. Lá te encontro perdida de desejo.

Fomos longe demais. Agora só no final da linha tem volta.

Fingi que queria apenas dois passos de dança. Foi ceder para eu te jogar fora da pista

Abra o bilhete só depois de ter certeza. Consulte os astros do teu céu noturno

Quero você, mas não conte para você mesma. Fica entre nós, criaturas sem nome.

Ser poesia já nos bastava. Mas quisemos mais, esse estrago a dois que nos incomoda além do limite da palavra.

Não me negue o que já me pertence: a noite alta da tua Lua nova.

Lua Nova: Cortei a unha bem fininha. Grudei no céu noturno.

Alta poesia é quando a palavra toma todas.

Teclado come letras na hora do poema. É uma espécie de imposto na receita geral da tua leitura.

Não é sério adiar o mico obrigatório de te dizer tudo. Comédia sinistra é ficar mudo. Melhor causar do que ficar retido na aduana da falta que me faz o teu sorriso.

Blusa, busto, blush, musa: procuro sons na palavras atiradas em me rosto no dia escancarado por tua poesia.

De vez em quando passo pela tua janela, num desfile solo, imaginário, de chapéu de palha, sambando sem música, só para ver se te convenço de que faço parte de um recital que só se ouve nas estrelas.

Chove em ti, beleza em resguardo. À espera de mim, bom tempo que tarda.

Tufo de arbustos altos incendeia de verde a paisagem cinza da manhã nublada. Sacode com o vento soprado pela noite morta.

Escutas o amor que verte das nuvens do meu olhar.

Levo para cama uma porção de sonho, que me deste de presente ao expulsar meu abandono.

É difícil, coração, o convívio com o mistério dos sentimentos em conflito. Confio na paixão e na dança que se imortaliza em cada gesto exercido pela felicidade.

Somos um só, doçura. Uma alegria que não se fina.

Uma princesa me visita. Abro todas as portas do coração.

Sempre que passas em pleno voo meu coração flutua.

Não vi você chegando. Tinha desistido do nosso banco no jardim suspenso. Mas me jogaste um sussurro quando eu ia embora

Descobriste o segredo. O poema se entrega quando negas o beijo.
 
Estás ocupada apagando as pistas do relacionamento. Não esqueça de jogar fora a caixa onde guardas meu retrato. Fiz o mesmo com a tatuagem do teu rosto no meu peito. Só que fui junto, princesa.

Não temos futuro. Por isso preferes a solidão que um dia derrubamos.


RETORNO – Imagem desta edição: Michelle Williams.