22 de agosto de 2013

NENHUM SEGREDO



Nei Duclós

 
Não quero pensar em ti quando faço poesia. Todos enxergam o rosto que jamais me fita.

Nenhum segredo te decifra, feminina. Charada de sonho em pelo.

Tua graça é uma concessão da tua inteligência. Me derrubas enquanto tudo compreendes.

Estavas presa na manga, sem saber o motivo. Era ainda o amor, que Deus nos livre.

Não sabia quem eu era quando acordei depois de perder os sentidos. Foi a chance de encarnar o que não é dito.

Caí em ti, quando dei por mim.
   
A solidão imagina, o amor povoa.

Eras um amor à espera. Tropecei nas folhas que deixaste em armadilha. Rias, quando caí em teus redutos.

Depositei a dor na curva do caminho. Segui adiante, contornando o abismo.

Todo dia é a mesma coisa. A palavra no centro de tudo.

Achas que sabes ler o que me imprime. Mas sou criptografado, criptonita.

Divides o espólio que construímos com alguém que não existe. Só para mostrar que se vinga. Perdoa sem fazer ruído, exagero de suspiros.


PITACOS TUÍTICOS

Não é verdade, disse o desmentido.

Se sou daquela época, o que faço aqui? Sobrevivi, ruínas de mim

Velhos são recentes. O tempo é mais antigo. Chega de memórias precoces, de saudades de cinco minutos atrás. O mundo perdido é o grande susto

Trazemos certas habilidades de outras vidas. É uma espécie de contrabando genético.

A realidade extrapola os limites das análises. Toda tese é furada. As exceções em excesso inviabilizam as sínteses. Inclusive esta.

Quando você não tem nada a dizer, escute.

Há um jeito fácil de desistir dos sonhos. Acordar.

Três garotas querem conversar com você. São da polícia.

O que chamas de fatos é apenas a versão medíocre do que me provocou assombro.

Palavras também morrem e são enterradas. Nas suas lápides medram fungos.Em compensação inventam outras, natimortas. Como tripartite

Não se usam mais algumas palavras. Como acolá, por exemplo. Que fim deu o acolá? Aqui, ali, acolá.

Gosto muito de gente, disse o cíclope.

Prove que você não é um robô...prove...que não...prove... que não é...prove

Este jornal não conseguiu localizar as fontes que viabilizariam a reportagem que acabamos de publicar.

O tempo anda muito rápido. Nem dei conta do século 20 ainda.