2 de agosto de 2013

O CHAPÉU NA COMÉDIA



Nei Duclós

Tirar o chapéu é sinal de admiração. Segurá-lo com as mãos numa corrida é para provocar riso, como acontecia nas antigas comédias, de Chaplin e Keaton a Oscarito e Grande Otelo (que ao fugir seguravam seus chapéus de marinheiro em Aviso aos Navegantes). O chapéu pode cair no momento em que o palhaço perde o equilíbrio ao dar um drible de corpo ou mudar bruscamente de direção. Seu esforço de manter a normalidade, conseguir que o chapéu fique plantado na cabeça enquanto acerta o passo atrapalhado e rápido, é engraçado. Descobri isso de tanto ver comédia antiga na TV a cabo.

Vemos como Oliver Hardy mexe com o chapéu quando está confuso ou furioso. Como se enterra o chapéu na cabeça alheia para ir à forra. Como se experimenta vários tipos de chapéu que provocam uma situação engraçada pelo contraponto ente o objeto e o corpo franzino ou avantajado do ator. Como as pessoas iradas pulam em cima do próprio chapéu para descontar alguma birra. Como é engraçada a tentativa de ser nobre do vagabundo Chaplin ao cumprimentar damas e cavalheiros com seu chapeuzinho coco. É como é encantador seu gesto cavalheiresco com o chapéu em direção a uma pretendente.

O chapéu é parte fundamental do design de um comediante. Não imaginaríamos Chaplin só de bengala, grandes sapatões e terno apertado. Ou O Gordo e o Magro sem seus complementos no alto da cabeça. O chapéu malandro de Chico, um dos irmãos Marx. O gesto de recuperar a dignidade passando a manga do casaco no chapéu recém retirado da poeira. O chapéu devolvido todo amassado por um safado com cara de paisagem para um interlocutor furioso. O chapéu palhinha de Harold Lloyd. O chapéu de abas curtas e bem no cocoruto, no alto da cabeça, do mexicano Cantinflas, contrapondo-se aos sombreros locais. O cxhapéu enorme todo enterrado na cabeça de Woody Allen quando está dirigindo.

Chapéu é comédia, entre muitas outras coisas. Gosto de chapéu.