24 de agosto de 2013

TALVEZ SEJA O FRIO



Nei Duclós

Dizes trêmula o que queres firme.

Custo a acordar o que faz sentido. Talvez seja o frio, talvez não exista.

Fugiste, mas os versos te alcançaram.

Sumiste, como um tuit antigo.

Definiste o fim pela milésima vez. Como se fosse possível transformar a curva da terra em linha reta.

Sentes alívio em partir para outros rumos. Mas o pombo correio sabe o caminho e a mensagem sempre chega ao destino.

Em todo lugar será sempre teu coração voltado para o mar

Chegamos ao limite. Não há como voltar às distâncias. Cruze o perigoso horizonte

Moro no fundo do mar, disse a sereia. Mas só contigo me falta ar.

Serás sempre menor do que me reduzes.

Não faça poesia hoje, disse a tempestade. Tenha medo do amor que parte.

No fim, era você quem revistava as gavetas, enquanto eu olhava para onde apontavas o dedo.

Reportei o hábito de invadirem canteiros. É o mesmo perfil que se encanta com flores alheias, sem saber que elas murcham longe da terra.

Leia ocultando a caneta. Depois me diga, com tua própria pena.

Esse rumo me pertence. Levei a vida a escrevê-lo.

Não precisa ser amor. Basta misturar as águas.

Não domino a mensagem. Sou dial de rádios em quartos anônimos, conversas entre anjos com ruído de ondas curtas.

O que entendemos impressiona. Raridade na era do ruído anônimo.

Jogo limpo para não fingires inocência, insumo para cobranças. Enxergas até o fundo porque sou vitrine. Não diga depois que não foi assim.

Tiro da imaginação o que parece ser lição de vida É apenas ficção, flor da campina

Solidão é uma vingança involuntária. Pune o adeus pondo os joelhos no milho.

Perdes tempo com o amor, essa palavra. Cuide de si, princesa bárbara.

Estavas ocupada em tuas trilhas. Nem percebeste o assobio do pássaro, domínio de um canto raro.


RETORNO - Imagem desta edição: obra de Robert Finale.