1 de setembro de 2013

ABERTO



Nei Duclós

Te recebo, aberto, me sonhas, desperta, encontro completo.

Atuas em teu roteiro, eu apenas filmo.

Acreditas em tudo o que eu digo, mas só de mentira.

Teu rosto aproximou-se, surpresa de brisa.

Estava contigo o tempo todo, falsa flor do abandono.

Nunca ninguém me disse. Eu vi. Tens uma pinta no beijo que evitas.

Poema bonito é o que guardas onde não respiras.

- Você vai demorar? ele perguntou.
- O que é demorar? ela disse.

- Sabes onde está o amor? ele perguntou.
- Está onde você deixou, disse ela.

Estás no mesmo lugar, inacessível. Não adivinho o ponto. Amor, uma vírgula.


RELÂMPAGO

Inventar precursores e colocar-se numa linhagem nobre, tanto genética quanto cultural, pode colar enquanto você for vivo. Depois que some, a verdade vem à tona. Somos seres isolados no cosmo, limitados por uma existência terrena. Viemos de nenhum lugar e ninguém mais saberá de nós, a não ser aos pedaços. Herança partida, quase toda devorada pelo Tempo. Teu ser bóia no mistério. A notoriedade é passageira, como um pássaro de luz.

Nei Duclós