5 de setembro de 2013

BOTE




Nei Duclós

Escrevo sobre os peixes mortos no fundo do barco,
as linhas misturadas ao barro e os anzóis,
moscas sobre pedaços de guerlas e os remos inúteis
que tocam tambor na quilha enquanto o motor pifa
no meio da correnteza.

O dia insuportável de mosquitos já se entrega
e a noite prepara o bote de olhos  brilhantes
na beira do mato. Pássaros amestrados
por duendes avisam alguma coisa torpe.
Os camaradas se despedem e vão para a outra margem.

Você fica só, debaixo da Lua cheia.
Um tiro de canhão vibra fundo na água.
Você não dorme.
O acampamento navega na memória.